Capítulo 42

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Corvo

Eu bebi descontroladamente, só que, por alguma razão, continuava sóbrio. Eu queria entender o motivo por minha amargura e por algo dentro de mim doer como uma ferida recente.

Eu queria que tudo se fodesse, mas era eu quem estava fodendo com tudo. Meu bom Deus, como pude ter ido tão longe com Farah depois de tudo o que ela e sua família me fizeram? Eu só podia estar ficando maluco.

Tentei amenizar a dor da forma que eu conhecia.

Com álcool. E fiz isso a noite toda, bebidas fortes até ser obrigado a deixar o pequeno barzinho onde meus companheiros de mesa eram ratos. Os quais comecei a dar nome a cada virada de copo.

Frank;

Barney;

Stein.

Até os desgraçados foram embora depois de se satisfazerem com as migalhas de samosa que deixei cair.

Entrei tropeçando no quarto, porque, apesar do meu cérebro estar funcionando perfeitamente, minhas pernas aparentemente não estavam. Despertei os gêmeos, talvez com o barulho ou o xingamento que deixei escapar em alto e bom tom quando topei o dedinho na cama.

— Que horas são?

Em meio a embriaguez e escuridão foi impossível saber qual dos gêmeos perguntara.

— Hora de eu voltar pra casa — balbuciei de olhos fechados e estirado sobre a cama.

— Você não tem mais casa, se lembra? É tudo da polícia agora.

— Puta merda...

                                           ***

— E então? Tá respirando?

— E ouvindo também — respondi, acrescentando um tapa na mão de Matt verificando a pulsação do meu pescoço.

Ergui as pálpebras e fazia um bom tempo que eu não sentia como se o sol fosse um ácido derretendo minhas retinas.

— Fecha essa porra! — resmunguei, apontando para as cortinas abertas.

— Você bebeu o quê? Álcool de posto? — interrogou Matt.

— Foi e finalizei com óleo de motor — ironizei, sendo aquele meu hábito.

— De quem é essa calcinha? — indagou Marvin, com um pedaço de pano branco entre os dedos. Era a calcinha de Farah, a que eu fizera questão de estraçalhar com meus dentes.

Onde eu estava com a cabeça?

Ahhh, você sabe bem.

— Minha.

— Começou a usar fio dental agora, corvinho? — debochou Marvin.

Não era fio dental. Pelo contrário, não tinha nada de sensual naquela peça, no entanto, os gêmeos acordaram dispostos a me provocarem.

— Largue isso — pedi, em uma severidade calculada.

Ele continuou com o tecido em mãos e falou:

— Você tem saído pra caçar mulher e não nos chamou.

— Vocês já são grandinhos pra procurarem as fêmeas de vocês. E é a última vez que aviso, largue!

— Desde quando uma simples calcinha o deixa tão agressivo? — perguntou Marvin.

Sim...Desde quando?

— Vocês não têm nada melhor para fazer?

— Testar o seu limite tem sido divertido — falou o outro.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now