Capítulo 46

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Farah

As artistas que fariam as minhas tatuagens mehndi e das minhas convidadas tinham acabado de chegar em casa para decorar as nossas mãos e meus pés.

Eu já tinha passado por toda aquela preparação pré-casamento com o meu quase primeiro marido. Achei que me sentiria mais feliz naquela segunda vez por Shobhan parecer um partido melhor, mas não.

— O bracelete que meu irmão te deu é lindo — reparou Aruna. Era uma das cinco irmãs de Shobhan. Não fora eu quem as convidara para o ritual daquela manhã. Provavelmente minha mãe quem se encarregara dessa tarefa.

— Seu irmão tem um excelente gosto — respondi. Era verdade, o bracelete em prata com pedras que me remetiam a escamas de peixe era maravilhoso.

— Acredito que uma pedra preta lhe cairia melhor, já que é a sua cor preferida — Naya incitou, querendo causar uma reação em mim.

— Preto? Pensei que azul fosse sua cor — falou Maya, perdida na conversa.

Agachei-me diante a tatuadora e pousei a mão em seu colo para que desse início aos desenhos arabescos.

— Não tenho uma cor. Mas esse azul-esverdeado escolhido por Shobhan, está perfeito — comentei, para não ficar mal entre as irmãs do meu futuro marido. — Vamos, meninas, as artistas estão esperando por vocês.

— Farah, peça para a sua esconder o nome do meu irmão no desenho para que ele tenha que encontrá-lo na noite de núpcias. — Mahara, a outra irmã de Shobhan, brincou, fogosa e despertou risinhos maliciosos até da minha mãe e minha sogra.

Eu me retraí só de pensar que seria tocada por Shobhan e que eu teria que fingir apreço.

Uuuuh. Gostei de você, Mahara — Maya se animou com a ideia e virou-se para mim depois. — Eu senti uma energia forte entre você e o Shobhan durante o Haldi.

Energia? Eu estava era enojada por ter pasta feita com cúrcuma no rosto, ombros, braços e pés apenas para ser purificada.

Shobhan passou por todo o ritual calado como uma múmia. Ele aparentava ser o tipo de homem que pediria desculpa durante todo o tempo em que me penetraria.

Ele não deixaria chupão na minha virilha.

Não puxaria meus cabelos.

Não diria coisas sujas enquanto tinha a cabeça entre minhas pernas.

Pare.

O que eu estou fazendo? Não devo usar Damon como parâmetro para nada.

Tik. Temos uma energia mágica — menti para agradá-las.

A artista - e sua destreza quase cirúrgica -, começou a preencher toda a palma da minha mão com tinta marrom bem escuro. A carícia do pincel na minha pele fina era de me causar sono.

Eu me ausentei durante a conversa das convidadas, mas fui trazida de volta à realidade quando uma delas falou sem a menor cerimônia:

— Um tiroteio. Que horror. Espero que ninguém tenha se ferido.

— O que disse? — Meu sangue circulou abaixo de dois graus.   

A prima de Shobhan foi quem anunciara a tragédia com o celular na mão.

— Acabei de receber a mensagem de uma amiga. Parece que houve um tiroteio na estação de Satya agora de manhã.

— Deixe-me ver — peguei o celular da mão dela e li a mensagem. — Que dia da semana é hoje? — interroguei a qualquer uma. O tremor da minha mão levou a artista ter de me segurar mais firme.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now