Capítulo 52

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Corvo

Recolhi as coisas do chão e na fúria em que estava, eu poderia comer aqueles cacos de vidros sem ser ferido.

Quem aquela desgraçada pensava que era para me expulsar de Agira? Se queria se casar com um indiano, que se casasse, mas não para vir me cobrar favor depois. Era isso que todos faziam, afinal.

A porta se abriu e Matt apareceu com Marvin apoiado nele. A muleta, Matt trazia embaixo do braço para o irmão.

— Um furacão passou por aqui? — Marvin questionou, olhando a bagunça em volta.

— Pode-se dizer que sim — falei e o ajudei a se sentar. — Não achei que receberia alta hoje.

— Vim fazer repouso em casa.

— Ele encheu tanto o saco dos médicos que o liberaram — disse o irmão.

— Será que podemos parar de falar de mim para discutirmos sobre o que aconteceu nesse quarto? Meu Deus, eu tô vendo a pia do banheiro caída? — Ele se esquivou para olhar a porta aberta atrás de mim.

— Eu quebrei transando com uma mulher.

— Transando, não. Você provavelmente estava a matando. Ela passa bem?

— Ótima — rosnei.

— Ela também fez um estrago em você — reparou Matt, empurrando meu pescoço pra baixo para observar a marca de chupada.

— Pelo amor de Deus, temos assuntos mais sérios para tratarmos. Minha vida sexual pode ficar para depois.

— Acordou arisco. Não foi alimentado? — provocou Marvin.

Bufei e cruzei os braços.

— Eu agredi um policial e assassinei outros dois homens no dia do atentado. É provável que eu vá preso, então quero prepará-los para essa eventualidade. Se eu estivesse no meu país, pediria ajuda dos meus homens, mas, aqui, só tenho vocês.

— Você também se sentiu um inútil agora, Matt?

— Pequeno e insultado — concordou o outro gêmeo.

— Vocês são dois contrabandistas. Não espero que saibam fazer muito.

— Os dois homicídios que cometeu...

— Um dos homens disparou contra Marvin e o outro, também era um dos terroristas — interrompi Matt para me explicar.

— Você salvou a cidade. Não devia ter a possibilidade de ir preso! — reclamou Marvin com a perna esticada. Ficar de repouso seria terrível para ele, ainda mais quando descobrisse que levaria um bom tempo até que pudesse voltar a subir numa prancha.

— O mérito é todo de Farah — pigarreei com o incômodo em citar aquele nome. — É o seguinte, se eu for ligado ao tiroteio não será um crime afiançável, então não adianta contarem as moedinhas.

— Como espera que a gente te tire da cadeia? — Matt indagou.

— Quero que liguem para uma pessoa.

— Como um telefonema poderá salvá-lo?

— Juliana encontrará o melhor advogado para mim — ergui o colchão da minha cama e ofegante, falei:— E será com isso que irão pagá-lo.

Os dois franziram o cenho e ao mesmo tempo. Nunca os vira agir tão simultaneamente.

Por estar mais próximo a mim, foi Matt quem pegou o saquinho e analisou.

Yen? — Confirmei. — Onde conseguiu isso?

— Tinha em uma das sardinhas. Eu encontrei e o trouxe comigo — admiti, protegendo a traiçoeira.

— Por que não nos contou? — questionou Marvin.

— Eu não sei.

— Se for um advogado correto ele não aceitará isso como pagamento— disse Matt.

— Duvido que Juliana conheça algum homem correto — falei.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now