Capítulo 59

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Farah

— Tem certeza de que é uma boa ideia?

Puxei o vestido até liberar o decote. Sua única decência era o comprimento. O que ele tinha de longo, tinha de decotado. Eu queria ter ido com um sari, mas Shobhan me alertou de que não seria uma boa ideia atrair muitos olhares.

Desde que recebi um telefonema inesperado de Matt duas semanas atrás eu não tirei mais a ideia de ver Damon da minha cabeça. Não só isso, quando Shobhan notou o efeito que ouvir aquele nome causou em mim, não saiu do meu pé até eu contar cada detalhe da nossa história.

Sim, àquela altura o meu marido já conhecia todos os meus maiores podres e eu os seus. Contei a ele sobre Konstantinos e ele me contou que se envolvera com um homem casado e que o desgraçado com medo de ser descoberto pela esposa e filhos, mandou que o matassem. Por sorte, meu marido conseguiu escapar.

— Nós já estamos aqui, Shobhan. Eu farei isso!

Antes de entrarmos no palácio fomos revistados por seguranças. Era cômico de pensar que algo assim aconteceria em uma casa onde os convidados eram criminosos.

Damon não quer sangue rolando no seu tapete hoje.

Enlacei o braço do meu marido e o conduzi para o salão de festas. Eu nunca tinha visto Érebos com luzes tão harmoniosas nos lustres de cristal e flores vivas decorando o extenso corredor.

Ergui a barra do meu vestido para não rastejar no tapete vermelho, e, enquanto atravessávamos a porta de vidro que levava à festa, ouvi Juliana dizer no microfone:

— Dou-lhe uma, dou-lhe duas e dou-lh...

— Vinte e dois mil! — Ergui a plaquinha. Matt dissera ao telefone que Damon estava praticamente falido e que faria aquele leilão para tentar consertar as coisas em Érebos. Como dinheiro não era problema para mim e para Shobhan, eu fiz o lance e acabei comprando alguma coisa que eu definitivamente não precisava. — O que eu comprei, afinal? — Todos gargalharam alto. Não riam de mim, riam comigo.

— Uma linda escultura de Discobolus em bronze — Juliana respondeu. Ou melhor, rosnou. Sempre soube que eu não agradava aquela mulher.

— Fantástico. Era tudo o que precisávamos em casa — brinquei e escorei minha cabeça no ombro de Shobhan.

Novamente riram comigo.

Meu marido e eu procuramos uma mesa para nos sentarmos até que o leilão finalizasse.

— Uma estátua grega é tudo o que uma casa indiana precisa. — Shobhan ironizou. — Imagino o que meus pais pensarão quando chegarmos com isso em casa.

— Ficarão enlouquecidos. — Levei uma cereja à boca. — Ficou bravo comigo por ter gastado seu dinheiro?

Ele pegou minha mão sobre a mesa.

— Não. De forma alguma. E não é o meu dinheiro. É o nosso.

— Shobhan, eu amo você.

— E eu a amo.

Só reparei que as vendas tinham finalizado quando Juliana chegou à mesa.

— Como deseja pagar? — perguntou-me.

Shobhan pegou seu celular no bolso e disse:

— Como transfiro o valor?

A loira passou a conta e ele realizou o pagamento sem delongas.

— Amarga — ele disse quando ficamos a sós novamente. — Não deve transar.

— Ela transa, acredite. E faz isso com frequência — respondi, acompanhando a silhueta esguia no vestido azul-noturno se afastar. O seu destino não podia ter sido mais cruel. Fiquei incomodada ao ver a mão de Damon se alocar naquele quadril de modo possessivo e ele beijá-la na testa.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now