Corvo
O relógio marcava meia noite.
Ela estava ao meu lado, dormindo profundamente. Como a cama era espaçosa, tornava quase impossível nos tocarmos acidentalmente. Não a convidei para se juntar a mim naquela noite para que rolasse algo entre nós, não tinha cabeça para sexo. Só me acalmava estar com ela. Era estranho.
— Está sem sono? — murmurou, ainda de costas.
— Pensei que estivesse dormindo.
— Eu estava, mas sua respiração descontrolada me despertou.
Virei-me de barriga para cima, observando atentamente o clarão infernal e brilhante no teto.
— Quer que eu pare de respirar para a donzela dormir? — Dei brecha para uma resposta maldosa.
Farah virou e aproximou-se.
— Você faria as honras?
Sua perversidade me levou a rir. Ela tinha um veneno suficientemente forte para me matar, se quisesse.
— Se prometer sonhar comigo.
— Desde que possa ser em forma animal.
— Um grande, valente, fugaz, e forte demais para controlar.
— Espero que ainda estejamos falando de animais. — Esperou que eu terminasse de rir para perguntar: — Encontrou alguma pista sobre seus pais nesses hospitais?
— Não, e acho que não quero mais descobrir. Já se passaram tantos anos.
— Você tem todo o direito de querer saber quem são eles. É a sua identidade.
No meio da lamúria e desventura, senti seus cabelos escuros e lisos com meus dedos. Seu respirar sobre o meu rosto.
— Obrigado por estar aqui, Farah.
— Eu disse que sempre estaria quando precisasse. Posso não ter cumprido algumas promessas que fiz ant...
— Shhh, não existe o antes. Existe o aqui e o agora.
— O que quer dizer, Damon?
— Que eu q... — Seu poder hipnotizante quase me fez dizer tudo;
Cuspir as tripas;
Colocar todas as cartas na mesa. Mas eu engasguei, porque antes de tudo, eu precisava me confessar. E seria foda sair daquela fantasia pacífica e deixar Farah ver a semente podre que eu era.
Tentei esmagar tudo o que me acovardava, mas sofri uma dose agressiva de vergonha e insegurança. Rastejei para uma lembrança horrível que deturpou a minha mente e não pude esconder a minha desgraça estampada no rosto, arqueando as minhas costas.
A maldição repousou em mim.
Solidão, tristeza, amargura e o fardo que eu levaria para sempre.
Tudo que eu suportava e carregava me fizera chegar à conclusão de que a morte seria pouco para mim. Eu merecia ser esmagado, sufocado, apedrejado...
Em que eu me transformei?
Eu podia culpar o mundo, culpar meus pais, os orfanatos. Mas foram as minhas mãos que derramaram o sangue dos fracos. Fui eu quem não quis parar o ciclo de destruição que comecei.
A violência se encontrava em mim e eu me tornei obsessivo por ela. Estava escrito nas estrelas e em cada linha na palma das minhas mãos...
Eu sou um demônio.
DU LIEST GERADE
O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)
RomantikATENÇÃO: ESSE NÃO É O MESMO ARQUIVO QUE ESTÁ NA AMAZON. Houve alterações no livro para a venda dele na plataforma. Livro completo na Amazon Série: Escoceses Livro III Sinopse: Ele era ruim. Ela era duas vezes pior. Ele achava que o mundo estav...