× Fallen Angel ×

× De mãos atadas ×

•× Izabelle ו

O caminho de volta para os alojamentos é silencioso, Allex não fala muito e eu também prefiro não correr o risco de esbarrar e falar algo que não devia. Como disse, o acho imprevisível demais e sinto que o quê ocorreu possa não ter tanta importância para Allen quanto teve para mim.

Eu não sei ao certo o que pensar depois de tudo que ocorreu hoje, quem dirá conseguir conversar sobre isto e pergunta-lhe o que achou, então apenas encosto-me na janela do carro convencida de que tudo isso é perigoso demais para mim e tento descansar.

O céu já escureceu quando Allex finalmente adentra os portões do Campus e para o carro em frente ao prédio que fica meu quarto, eu não espero que ele diga ou faça algo, então apenas agradeço-o e saio do carro. Sei que é ridículo, mas sinto-me triste com sua atitude silenciosa e seu comportamento distante. Não sei bem o que quero que ele faça, mas ficar calado e agir como um pedaço de gelo não é uma das coisas que passou pela minha mente.

Assim que entro no quarto deixo as coisas que levei à aula mais cedo de lado e pego minhas coisas de banho, preciso tirar esses pensamentos malucos da cabeça, mesmo que seja praticamente impossível de esquecer as mãos ágeis de Allex deslizando pelo meu corpo e sua boca deliciosamente macia e rosada beijando a minha, este é nosso segundo beijo, até onde sei, mas lembro-me apenas deste.

Ele me tocou assim quando nos beijamos pela primeira vez? Como eu reagi? Quase nao tive forças para pará-lo sóbria, quem dirá bêbada. Eu me odeio por não lembrar de nada... preciso voltar para a realidade... A realidade escrota que eu me encontro.

Depois do banho e de me arrumar, me arrasto até meu celular, preciso encarar o quanto antes essa conversa com minha mãe, mesmo sendo contrariada e desejando mais que tudo que isso seja apenas um surto.

Disco os números do seu telefone e enquanto aguardo ansiosa, minha mente trabalha nas possíveis desculpas furadas para tamanho deslize.

- tentei ligar para você durante o dia todo, o que aconteceu? - minha mãe diz nervosa assim que atende a ligação, está visivelmente preocupada e eu tento me controlar para não gritar com ela, há uma razão válida para isso, tem que ter.

- não aconteceu nada - minto e respiro fundo tentando encontrar uma forma menos desesperada de fazer a pergunta.

- ah graças a deus, você me ligou três vezes mais cedo e depois sumiu - ela interrompe-me aliviada. Ando até a cama e sento-me, preciso de uma forma de... preciso menter a calma, mas sinto o choro fazer minha garganta arder, respiro fundo e fecho os olhos antes de recomeçar a falar.

- eu queria falar com você, mas depois tive um imprevisto... Enfim, estou livre agora e quero acabar logo com essa angústia - explico-lhe, minha voz sai um pouco mais alta e apressada do que eu pretendia, mas estou tão nervosa e ansiosa que é impossível controlar meus sentimentos agora, mesmo que eu lute fortemente para isso.

- pode perguntar, querida. - sua voz está firme, mas a conheço o suficiente para saber que ela está apenas fingindo, provavelmente imagina sobre o que eu vou perguntar, ela me conhece o suficiente também.

- sei que teve bons motivos pra isso, se não, não teria feito o que fez, então eu só quero saber o motivo que levou a senhora a fazer isto - quis deixar claro antes de fazer a pergunta, sei que ela teve um bom motivo, tem que ter tido - Por que vendeu a nossa casa? Por que justo para os Wood? - não consigo manter minha firmeza na última parte, minha voz sai embargada demais, sinto meu sangue ir parar no rosto e meu chão cair novamente apenas em pronunciar esse sobrenome maldito.

Os segundos que passam são vagarosos e tortuosos, ela mantém-se calada e minha mente bombardeia-me com todo tipo de loucura, sua respiração é a única coisa que me faz saber que ainda está na linha - me desculpe - ela diz finalmente - eu não queria preocupar você - ela parece desesperada e eu não queria culpa-la como eu estou fazendo agora, mas eu não posso controlar minha raiva por ela ter feito isso.