Desconforto

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Mais um pedacinho de história pra vocês.


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Desempenhando uma das únicas rotinas possíveis a cada dia, Rafaella começou a manhã indo ao supermercado.

Como cozinhar para uma vegetariana agora também fazia parte de seus dias, a mineira precisava inovar nos cardápios aos quais estava acostumada e, claro, ela não tinha quase nada dos ingredientes em casa.

Quando chegava perto da calçada de seu prédio, uma figura parada no portão lhe chamou a atenção, fazendo Rafa abrir um sorriso que iluminou a manhã cinza que fazia em São Paulo.

Afinal, aquele um metro e meio de ser humano, com um chapéuzinho enterrado na cabeça, jamais geraria outra reação na mineira, e ela tinha plena noção disso.

Sem tentar se conter por nenhum segundo, Rafaella saiu correndo até chegar mais perto.

R: Ah, mas eu não tô é acreditando no que os meus olhos estão vendo, não. – parou bruscamente, fazendo a pessoa se virar, assustada – A que devo a honra tão cedo, Maria Manoela?

M: Que susto! – empurrou o ombro dela, mas em seguida retribuiu o sorriso na mesma medida, embora Rafa tenha sido impedida de enxergar por causa da máscara – Ahhh, e que saudade e vontade de te apertar!

A blogueira sorriu ainda mais quando enxergou nos olhos pequenininhos de Manu a manha que ela fazia.

R: Eu também, Manuzinha! Queria muito te dar um abraço... – escutou o estalo do portão – Aí, já liberaram pra gente! Vamos entrar!

M: Seu porteiro tinha acabado de me falar que você não estava, e eu já tava aqui me perguntando: como foi que eu consegui operar essa proeza de me arriscar para visitar alguém em pleno lockdown e a pessoa não estar em casa? – fechou o portão para Rafaella, vendo que ela estava com as mãos ocupadas.

R: Você é louca, isso sim, Manuzinha! – repreendeu ela com o olhar – Quando você disse que viria, eu nunca achei que faria mesmo.

M: Ah, Rafa, eu tava enlouquecendo sozinha naquele apartamento. Tenho caminhado todos os dias, hoje eu só dei uma esticadinha a mais na caminhada. – deu de ombros, entrando no elevador – E não fui parada por ninguém, então a primeira metade da aventura já foi bem sucedida.

R: Mas tem que tomar cuidado, eu não preciso te dizer isso, né? – destravou a porta do apartamento, cedendo passagem para Manu – Mas eu ainda não acredito que eu tô com você na minha casinha, seja muito bem-vinda!

M: Obrigada, amiga! – retirou a máscara, deixou os tênis perto da porta e se jogou no sofá, cruzando as pernas em cima dele, sem cerimônias – queria vir tomar um vinho no seu tapete, mas achei que se viesse caminhar a noite ficaria muito na cara. – pronunciou dramaticamente, do jeitinho Manu Gavassi.

R: Melhor não arriscar, né? – balançou a cabeça negativamente, rindo do jeito de Manu e saindo para deixar as sacolas na cozinha.

Manu foi atrás.

M: Menos mal que você só tinha ido ao supermercado, já fiquei achando que você, sim, estava se arriscando loucamente por aí.

R: Qualquer saidinha já é um risco, né? – continuou a conversa enquanto esvaziava as sacolas – Mas neste caso, não tem outro jeito.

Cinco Dias (RABIA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora