Realização

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Não deu ontem, mas chegou o mais cedo possível hoje, e um pouco maior do que o anterior.

Boa leitura!


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– Oi, bia, tudo bem? Desculpa te mandar tão cedo essa mensagem, mas é só pra dizer que hoje meu dia vai estar super atropelado, o tempo inteiro, então eu acho que só consigo deixar seu almoço por aí, bem rapidinho. Tudo bem? Me responde quando acordar para combinarmos a hora que eu puder passar aí e eu me programar, ok?


Essas foram as primeiras palavras que Bianca ouviu por áudio em seu whatsapp, em tom absolutamente seco, assim que acordou.

Com o gosto amargo da ressaca na boca, ela soltou o celular, virou para o lado, abraçou o travesseiro extra que tinha na cama, e apertou os olhos...

... Já sabia que seria um "daqueles" dias.

A noite tinha sido horrível e a manhã já tinha começado com um fora da única companhia que ela vinha tendo.

Então era uma certeza: a tendência era só piorar.

Ainda de olhos fechados, ela pensou que, do jeito que as coisas caminhavam, se abrisse o twitter, com certeza ela ia perceber que àquela altura do dia já teriam arranjado uns três motivos de cancelamentos diferentes pra ela.

Voltou à posição com as costas no colchão, respirou fundo segurando os cabelos na região da testa e alcançou o celular novamente.

–  Bom dia, Rafa! Não se preocupa comigo, não. Acordei com enxaqueca, então pretendo ficar mais quietinha também. Ia dizer pra não trazer nada, mas sei que vai insistir e talvez até já tenha feito o almoço. Então, pra não te segurar e te deixar no seu tempo, vou avisar o Reginaldo da portaria que você tá liberada pra entrar qualquer hora e já deixo a porta destrancada, tá? Assim você vem a hora que quiser, mesmo se eu estiver dormindo. Bom dia de trabalho pra você. Beijo!


E foi mesmo o que ela fez.

Levantou, foi ao banheiro, tomou um copo d'água na cozinha, colocou comida para Lua no potinho dela, interfonou para a portaria, destrancou a porta e, sem ter coragem nem para voltar até o quarto, puxou uma manta que tinha no sofá e se aninhou ali mesmo.

Tentou muito reencontrar o sono, mas se perdeu tanto em pensamentos e preocupações, em um processo tão extenuante, que nem se deu conta de quanto tempo ficou ali e nem de quando o sono chegou.

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Do outro lado da rua, Rafaella havia recebido a mensagem de Bianca com um revirar de olhos.

Afinal, era o típico comportamento que se poderia esperar de Bianca depois de uma noitada.

Antes de ir dormir na noite anterior, Rafaella tinha entrado em crise outra vez sobre a proximidade com Bianca e, diante disso, havia decidido que não ia mais se prender à rotina da empresária. Ia, sim, continuar ajudando como desde o início disse que faria, mas não ia mais se prender aos horários caprichosos dela e muito menos passar o tempo que vinha passando por lá.

A partir de agora, seria objetiva como começou o dia se propondo a ser: deixar a refeição dela, checar rapidamente se poderia ajudar em alguma coisa, e fim.

Cuidaria de sua vida e seus compromissos com mais atenção para, quem sabe assim, se livrar daquele estado de espírito dos últimos três dias.

Desde aquele esbarrão de Bianca no supermercado que ela nunca mais tinha tido sossego. As dificuldades, que já eram muitas com aquele isolamento social radical, acabaram se tornando sufocantes demais e ela precisava urgentemente retomar sua paz interior.

Cinco Dias (RABIA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora