Capítulo Dezoito

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Rol Fisher:

Devo dizer que o local onde os guardas sobrenaturais morrem me surpreendeu quando chegamos. Das casas da família até o local onde os curandeiros trabalham, parecia um verdadeiro hospital.

O corredor do hospital era tão branco que quase cegava. No entanto, agradeço por isso, já que, após tantos dias vivendo à luz de uma lanterna, de tochas e de pedra enfeitiçada, a luz fluorescente fazia as coisas parecerem pálidas e artificiais.

Fiquei apenas duas semanas longe de algo mais mundano, e já me sinto estranho em ter voltado a ver algo desse tipo perto de mim novamente. As coisas acabam sendo bem diferentes quando são feitas com magia ou quando vivemos em uma alcateia de lobos.

Enquanto caminhávamos pelos corredores impessoais do hospital sobrenatural, minha mente vagava por diferentes pensamentos. Aquele ambiente esterilizado, distante da magia selvagem e da natureza, despertava uma sensação de desconforto. Era um lembrete de como a vida entre os humanos e sobrenaturais podia ser tão díspar.

Meus pensamentos se dividiam entre a recente batalha, a imagem de Carmuel coberto de sangue e o abraço surpreendente que trocamos no navio. A fragilidade do momento, contrastando com a ferocidade da luta, deixou-me intrigado. Havia uma complexidade em Carmuel que eu estava apenas começando a compreender.

Ao mesmo tempo, a preocupação com Tri pairava em minha mente. Ela estava pálida e claramente exausta, usando suas últimas reservas de magia para nos auxiliar na batalha. O vínculo entre nós, irmãos de alcateia, era forte, e eu sentia a responsabilidade de protegê-la.

À medida que avançávamos pelo hospital, testemunhando a mistura de magia e ciência em cada quarto, uma inquietação crescia dentro de mim. A dualidade de nossa existência, equilibrando-se entre dois mundos, tornava-se mais evidente. Os curandeiros, humanos e sobrenaturais, trabalhavam juntos para manter o equilíbrio precário.

Enquanto isso, a lembrança da marca ardente no peito ressurgia em minha mente. A ligação com Rol, os eventos recentes e a dor pulsante na marca desencadeavam uma avalanche de pensamentos confusos. Eu sabia que precisava enfrentar esses sentimentos tumultuados, mas a clareza ainda escapava de mim.

Ao final do corredor, chegamos a uma sala onde os curandeiros estavam ocupados, cuidando dos feridos da batalha. O cheiro característico de ervas e poções preenchia o ar, e a visão dos feridos me trouxe de volta à realidade, afastando-me por um momento dos complexos turbilhões de pensamentos que ocupavam minha mente.

Quando entrei no quarto, percebi que uma das curandeiras chefes, que me entregou um papel, tinha a pele estranhamente amarelada sob as luzes brilhantes.

Uma feiticeira; fazia anos que eu não via uma. Devolvi o papel que mudou de cor para verde.

— Última porta no final do corredor — ela disse, exibindo um sorriso simpático. — Ele deve estar dormindo agora; aquela luta o pegou de jeito! Vejo que se preocupa com ele, e o mesmo sempre fica chamando seu nome.

— Ou posso estar enlouquecendo, por vir até ele, e o mesmo é meio doido — falei, e ela riu enquanto me virei para ir até o quarto do Carmuel. — Eu sei, estive aqui ontem e nos dias anteriores!

Era princípio de noite, e o corredor não estava tão cheio.

Um senhor passeava pelo carpete com chinelos e robe, arrastando uma unidade móvel de bolhas feitas d'água.

Dois curandeiros trajando roupas na cor verde misturada com marrom traziam copos de café, com vapor sendo emitido da superfície dos copos no ar frígido.

Dentro do hospital, o ar-condicionado estava forte, embora lá fora o tempo tivesse finalmente começado a caminhar para o outono.

Nesses três dias, ficamos aqui na base dos guardas até que Carmuel se recupere da batalha dele e Tri restabeleça o seu poder mágico.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora