Capítulo Quarenta e Três

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Rol Fisher:

Foi um momento breve, mas impactante. Suas mãos, antes tão hábeis, agora cortavam a carne com uma violência quase palpável, como se cada movimento fosse carregado com a culpa de desviar o olhar para mim. Senti uma onda de compaixão por ele, uma alma que parecia ter perdido suas forças, apesar dos muitos desafios que ainda estavam por vir.

Contudo, havia algo fascinante em observar cada pequeno detalhe dele, como se estivesse testemunhando alguém experimentando seu primeiro jantar, repleto de ansiedade e excitação. De certa forma, era até divertido.

Quando o silêncio caiu sobre a sala de jantar mais uma vez, delicadamente esvaziei minha taça de sorvete de chá verde adornado com folhas de hortelã. Então, com uma curiosidade mal contida, ergui o olhar para encontrar seus olhos, pronta para fazer-lhe uma pergunta que há tempos estava em minha mente, enquanto nos aproximávamos do fim da refeição.

— Então, me conte como têm sido seus últimos dias, especialmente em relação à voz da maldição em sua mente. Ela tem feito algo diferente ou são os mesmos pesadelos de sempre? — Perguntei suavemente, segurando sua mão para evitar que ele se afastasse ou evitasse uma resposta sincera.

Por um momento, ele ponderou, soltando um suspiro antes de pousar a colher sobre a taça de sorvete.

— Ainda tenho ouvido os sussurros da maldição nos últimos dias, percebo minhas veias mudando de cor e sinto fortes dores de cabeça. No entanto, tem sido menos angustiante e acredito que isso esteja relacionado à sua migração em direção à Tri, mas estou fazendo o possível para atrair tudo de volta para mim — Ele explicou, apertando minha mão com firmeza, o que me surpreendeu, pois percebi que seus dedos tremiam ligeiramente.

Ele ainda tremia enquanto me encarava, então apertei sua mão com mais força, transmitindo meu apoio silencioso.

— Às vezes, esses sussurros vêm acompanhados das imagens do massacre que cometi, e eu acordo gritando, me sentindo completamente desamparado, com o corpo contorcendo de dor causada pelas veias — Ele prosseguiu, brincando com os meus dedos. — Mas quando você não está presente, só de pensar em você, começo a me acalmar.

— Então você está dizendo que sou quase como sua âncora de salvação? — Falei, sorrindo, com o coração sereno e um toque de felicidad

— Sim, pode-se dizer isso. Até agora, você foi a única pessoa capaz de me trazer de volta. Às vezes, chego até a sentir felicidade quando você está por perto e meu coração começa a se acalmar — Ele continuou, sorrindo como um bobo apaixonado, mal conseguindo acreditar que estava dizendo essas palavras em voz alta.

Dei-lhe um sorriso radiante, e ele retribuiu com um sorriso aberto, segurando minhas mãos firmemente enquanto seus olhos brilhavam. Era evidente que ele não conseguia esconder seus sentimentos, sua vulnerabilidade transparecia em cada parte de seu ser. Timidamente, ele fechou os olhos com força e mordeu o lábio, demonstrando sua hesitação diante de uma decisão que poderia mudar tudo. Nossos olhares se encontraram em um momento carregado de significado, como se todo o universo estivesse suspenso em espera. Eu podia sentir a tensão no ar, a incerteza pairando entre nós. Mas, apesar das dúvidas, havia algo intenso e inegável entre nós, algo que transcendia palavras.

Então, com um suspiro, ele abriu os olhos novamente, seu olhar fixo no meu. Era como se estivéssemos prestes a mergulhar em algo desconhecido, mas, ao mesmo tempo, profundamente desejado. Era um momento de decisão, de coragem para seguir em frente, mesmo que o caminho estivesse repleto de incertezas.

— Espero que um dia você encontre paz e tranquilidade. Acredito que chegará o momento em que será capaz de ser verdadeiramente feliz e essas lembranças se tornarão apenas parte do seu caminho. — Falei, apagando meu sorriso desconcertante e adotando uma expressão serena e neutra, que talvez o acalmasse. — Talvez seja hora de permitir-se sentir tudo e buscar a felicidade plena, como sua mãe e Valmir desejam.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora