Capítulo Vinte e Quatro

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Carmuel So-jeff:

A névoa se dissipou como um sussurro fantasmagórico, revelando o caminho até o telhado da casa principal. Me ajoelhei sobre as telhas ásperas, banhadas pela luz pálida da lua, e uma sensação surreal me dominou. Sabia que estava sonhando, mas a nitidez da cena era quase palpável, como se eu estivesse ali, de corpo e alma.

A alcateia So-jeff se estendia diante de mim, um emaranhado de casas e becos desenhados com a precisão de uma pintura. As estrelas, como pérolas brancas penduradas em um veludo negro, cintilavam com um brilho intenso, iluminando o local com uma luz etérea.

Um calafrio percorreu minha espinha, mesclando admiração e um certo receio. A beleza daquele mundo onírico era inegável, mas algo em sua perfeição me causava estranheza, como se eu não pertencesse àquele lugar.

Enquanto observava a alcateia adormecida, meus pensamentos se tornavam um turbilhão de perguntas. O que significava aquele sonho? Que segredos se escondiam por trás daquelas paredes de pedra e telhados de barro? E qual era o meu papel nesse universo fantasmagórico?

Uma coisa era certa: a partir daquele momento, minha vida jamais seria a mesma. O sonho da alcateia So-jeff havia despertado em mim uma curiosidade insaciável, um desejo de explorar cada canto daquele mundo misterioso e desvendar seus segredos mais íntimos.

Meus olhos se fixaram em uma figura distante, banhada pela luz pálida da lua. Era eu mesmo, meus cabelos negros contrastando com a escuridão profunda que se erguia das minhas costas. Uma luta titânica se desenrolava diante de meus olhos, meu corpo contorcendo-se sob o peso da criatura que me envolvia.

O monstro era um emaranhado de penas negras, com detalhes roxos que se desbotavam do preto profundo ao cinza. Cada pena emanava um ódio visceral, direcionado a mim e a toda a minha linhagem. Percebi que não se tratava de uma simples criatura, mas sim de um monstro apocalíptico, ajoelhado de costas, com um rosto que eu não podia ver, mas cuja aura de ódio me mantinha em estado de alerta.

Deformado e envolto em trapos cinza claro, o monstro cravava suas garras afiadas em minhas costas. A dor era dilacerante, um inferno abrasador que queimava minha carne. Levantei-me cambaleando, girando em círculos frenéticos, como se pudesse arrancar a criatura de meu corpo.

Uma luz dourada pálida me envolveu, a mesma que sempre emanava de Valmir. Mas agora, era diferente, mais reluzente e protetora. Lá estava ele, empunhando uma espada vermelha, seus cabelos despenteados como sempre. Com um golpe feroz, ele cortou a criatura em minhas costas, e com um grito agonizante, a espada afundou profundamente em seu corpo. O monstro desabou, caindo pela encosta íngreme do telhado.

Minha camisa estava em farrapos, encharcada de sangue. Podia sentir o líquido quente escorrendo entre minhas omoplatas. Roll correu em minha direção, seus olhos cheios de preocupação.

— Carmuel, Carmuel — Ele sussurrou meu nome. como se nunca o tivesse dito antes.

Ao nosso redor, o céu se incendiou com luzes brilhantes. As luzes se transformaram em formas e padrões, os mesmos que eu vira nos rabiscos dos papéis que meu pai criava quando o amarravam para controlar a maldição. O conhecimento que eles continham pairava na ponta da minha língua, como um enigma prestes a ser desvendado.

*****************

Abri meus olhos lentamente, ainda confuso com os eventos da noite anterior. Me encontrava deitado em minha própria cama, completamente vestido, exceto pela jaqueta e os sapatos, cuidadosamente colocados em uma cadeira próxima. Na cadeira de veludo ao lado, Tri cochilava, seu rosto apoiado na mão.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora