Capítulo Trinta e Sete

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Rol Fisher:

Horas depois, tomei a liberdade de mexer nos conteúdos da Tri no escritório antes que ela chegasse. Estava vendo muito do livro e também iria ser de grande ajuda para o feitiço que posso chamar a fazer. Mas preciso de silêncio total e alguns ingredientes que ela deve ter guardado nesse lugar.

Graças à grande confiança de que as pessoas não iriam mexer nessas coisas, não havia trancas em nenhuma das gavetas, o que permitia que eu abrisse cada uma sem problemas. Dentro, encontrei vários cadernos de espiral empoeirados com apenas algumas páginas usadas. Peguei um e vi que era um diário, atrás do outro, e percebi que os ingredientes estavam todos ali, o que me fez sorrir. Peguei apenas o básico para o feitiço, do qual tinha certeza que daria certo, mas fiquei curioso com os diários.

Olhei para a porta e peguei o máximo que conseguia carregar. Arrumei o escritório de forma que ninguém desconfiaria do que poderia estar fazendo no escritório do líder sozinho.

Com prontidão, retornei rapidamente ao meu quarto, ansioso para examinar o tesouro que havia descoberto. Afundei-me na cama, cruzando as pernas enquanto segurava o caderno com as mãos trêmulas. À medida que folheava as páginas empoeiradas, mergulhei em um mundo desconhecido de segredos e revelações.

Cada página revelava um vislumbre do interior da mente de Carmuel, revelando uma obsessão profunda por seus próprios problemas e empreendimentos. Suas palavras saltavam das páginas, ecoando uma paixão e uma intensidade que eu não esperava. Era como se eu estivesse sendo arrastado para os recantos mais íntimos de sua alma atormentada, perdendo-me em seus anseios e dilemas.

O resmungo do lobo ecoou ao meu redor enquanto ele observava os diários em minhas mãos, seu olhar carregado de um brilho raivoso que fez meu coração acelerar. Como ele ainda mantinha sua lucidez, apesar de ser um monstro feito de sombras, era algo que me deixava perplexo. Em alguns instantes, ele se desfazia diante dos meus olhos, apenas para retornar à sua forma normal dentro do vidro. Essa dualidade me assombrava, que o mesmo eram os sentimentos que carmuel queria longe de seu coração e o fazia odiar a si-mesmo.

— Então você consegue ver o que são esses cadernos — falei, e o lobo tentou soltar um rosnado. — Isso é realmente interessante.

Voltei a folhear as páginas, encontrando vários parágrafos nos quais Carmuel descrevia a maldição e seu efeito corrosivo em sua mente. A cada página, sua angústia parecia se aprofundar. Mas conforme avançava, percebi que aquele caderno não tratava apenas da maldição e de sua tormenta pessoal. Em vez disso, continha instruções sobre como impor medo e obter respeito das pessoas. Rapidamente, passei para as próximas páginas, desinteressado no conteúdo.

Folheei, folheei, folheei, convencido de que nada ali poderia me ajudar, até que me deparei com uma frase estranha.

— O que Rol está fazendo comigo? Ele está me concedendo algo que pensei nunca ser capaz de sentir novamente. — Li a primeira frase do texto, deixando as palavras ressoarem em meu âmago. No silêncio do meu quarto, quando fecho os olhos, sua imagem surge em minha mente com seu olhar desafiador, e isso me enche de alegria. É como se ele gostasse de testar seus próprios limites, e isso me cativa profundamente.Quando ouço que ele está estudando até mais tarde, sem descansar um segundo sequer, sinto uma ansiedade crescente. Como ele não percebe que, além de seu dever, também precisa cuidar de seu corpo e de sua mente? E quando o vejo sorrir para Tri ou para seu pai adotivo, um desejo fervilhante brota dentro de mim, ansiando por aquele sorriso direcionado a mim.

Engasguei com essa parte, sentindo meu peito apertar. Tive que respirar calmamente antes de continuar a ler o conteúdo.

— Apenas queria voltar a ficar como eu estava vivendo, com a ilusão de guardar meu coração e emoções, mantendo uma expressão vazia e monótona, como no tempo anterior a conhecê-lo, ou quando apenas desejava que ele fosse o salvador da minha alcateia. Mas agora, tudo o que estou sentindo chega a ser assustador. Esse sentimento que se instalou trouxe consigo emoções antigas, até mesmo aquelas de um outro eu que era próximo da irmã e sempre a protegeu de tudo. Eu gostava de tê-las, mas sinto como se a cada segundo uma voz dissesse que isso nunca iria acontecer, que não sou merecedor de nada disso. Há dias em que estou bem, há dias em que nem tanto. Mas há dias em que simplesmente não sei como estou me sentindo... Meus sentimentos estão em uma verdadeira loucura por causa dessa voz, e sinto que a cada passo que dou, será como se fosse meu fim. Talvez fosse melhor me livrar dos sentimentos negativos, até que tudo se resolvesse, pois eles são tão sufocantes para mim. Eu quero ver o mundo como era antes de me aproximar de Rol, antes de beijá-lo, sem ter a hipótese de que a situação poderia gerar um caos que destruiria a todos.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Where stories live. Discover now