Capítulo Vinte e Oito(Final da 1°parte)

1.4K 212 87
                                    

Carmuel So-jeff:

Você fez uma besteira ali fora! Controle-se um pouco!

As palavras ecoavam em minha mente, implacáveis. Uma ansiedade tomava conta de mim, um turbilhão de pensamentos sobre o que Rahniel, aquele velho maldito, poderia ter feito com Rol. A cada segundo que passava, a vontade de sair dali e ir até a vila para atacá-lo se intensificava.

Mordi o lábio com força, tentando conter o rugido que ameaçava escapar da minha garganta. Respirei fundo, buscando acalmar meu coração que batia descompassado.

— Átila — Rol disse esse nome enquanto eu olhava para a sala da casa. Avistei um pequeno corpo dormindo ali, escondido nas sombras de um sofá.

O garotinho estava dormindo no sofá vermelho da sala quando entramos. Ele usava óculos de leitura ligeiramente tortos e claramente não tinha planejado adormecer ali: havia um livro aberto no chão, onde ele o havia derrubado, e seus pés calçados pendiam na borda do sofá de uma maneira que parecia provavelmente desconfortável.

— Átila, mesmo que seja um lobinho, às vezes penso que ele é um gato. Consegue dormir em qualquer lugar! - Rol falou enquanto se aproximava do garotinho, que esticou o braço para tirar seus óculos. Rol colocou na mesa próxima com um cuidado que me surpreendeu. Havia uma expressão no rosto dele que eu nunca tinha visto antes: uma suavidade protetora e feroz.

— Estou com um pressentimento ruim, acho que estou ficando gripada. Vou tomar um banho quente. - Alana disse, com a voz já um pouco abafada pelo cansaço. - Rol, você também deveria fazer o mesmo.

Vi-a desaparecer pelo corredor com uma mistura de admiração e relutância. Essa garota me lembrava muito a Tri, com seu jeito forte e decidido.

— Ela tem razão sobre o banho quente. Vocês dois precisam tomar um, sem dúvida. - Meu tio Léo disse, apontando para Rol e meu marido.

— Mas eu não tenho roupa para vestir - Tio Klauons protestou.

— Como vocês vieram para cá sem malas? - Perguntei, surpresa.

— Estávamos com pressa, não deu tempo de pegar as malas. - Tio Klauons respondeu como se fosse óbvio.

— Amor, não se preocupe. Carmuel te empresta uma camisa. - Meu tio Léo disse, me encarando com um desafio no olhar. — Não é, Carmuel?

Suspirei. Apesar de tudo, eu amava meus tios do fundo do coração. Eles sempre estiveram ao meu lado e ao da Tri depois que nossos pais... depois que eu os matei.

— Claro, vamos lá, tio Klauons. — Falei, seguindo Rol pelo corredor.

— Depois voltem, tenho algo a falar com vocês. — Tio Leonardo disse, e assenti.

Levei tio Klauons pelo corredor até meu quarto. Ao abrir a porta, olhei ao redor.

Aposto que ele estava pensando que meu quarto era exatamente como ele se lembrava: completamente arrumado e vazio, como a cela de um monge. Não havia nada ali que lhe dissesse algo sobre mim, nada que o fizesse se preocupar: nenhuma marca de garras na parede, nenhum livro na cabeceira. Até a colcha na cama era inteiramente branca, apenas os lençóis estavam desmanchados.

Fui até a cômoda e peguei uma camisa azul de manga comprida em uma gaveta, jogando-a para tio Klauons.

— Você se livrou das fotos de quando era mais novo. — Tio Klauons disse, com a voz firme. Mordi o lábio, mas não respondi. O deixei ir tomar banho sem ouvir o que realmente fiz com as fotos da minha infância, que traziam memórias que eu desejava esquecer.

*****************

Eu sabia, há muito tempo, que havia mergulhado no meu pior pesadelo. Meu corpo começava a sentir o efeito da maldição sobre mim e a loucura que ela me traria.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora