Capítulo Quinze

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Carmuel So-jef:

O céu assumiu uma tonalidade metálica, como se armado para um confronto iminente, carregado de nuvens densas e ameaçadoras, prestes a desencadear sua fúria sobre a terra. A medida que nos aproximávamos da fronteira que separava o reino das neves do sobrenatural, a atmosfera tornava—se ainda mais pesada, como se o próprio ar estivesse carregado de presságios sombrios.

A incerteza permeava meus pensamentos enquanto contemplava os céus turbulentos. Eu não conseguia compreender o que os deuses caídos pretendiam ao levar consigo Rol. A única certeza era que o ataque visava sequestrá—lo, e após conquistarem esse objetivo, todo o exército desapareceu diante de nossos olhos, como se nunca tivesse existido.

A angústia apertava meu peito enquanto eu corria na direção para onde levaram Rol. O desconforto pulsava em meu peito, tornando cada passo uma agonia. Minhas pernas moviam—se tão rápido quanto meu coração, mas, ao chegar lá, minha impotência diante da situação paralisou minhas ações.

Não havia nada que eu pudesse fazer para impedir aquele sequestro devastador. Minha mente girava em desespero, enquanto meu corpo permanecia congelado diante da cruel realidade. Balançando a cabeça para tentar afastar os pensamentos sombrios, meu olhar se desviou para a cabine do capitão, onde minha irmã estava envolvida em uma conversa séria com um de nossos guardas pessoais.

O telhado angular da cabine brilhava como prata não polida, refletindo a tristeza e a incerteza que pairavam sobre nós. Nossos destinos estavam agora entrelaçados com o desaparecimento de Rol, e a jornada que se desenrolava à nossa frente seria repleta de desafios e perigos desconhecidos.

Contemplei a paisagem à minha volta, uma vastidão de águas cristalinas que se estendia até onde os olhos podiam alcançar. Ao focar minha visão, identifiquei algumas ilhas pontuando a extensão azul do oceano. A todo momento, a dúvida se insinuava em minha mente, sugerindo a presença de criaturas encapuzadas movendo—se nas águas ou nas ilhas. Contudo, a incerteza pairava, e eu não podia afirmar com certeza o que realmente se movia na distância.

A dificuldade de enxergar com clareza era evidente, especialmente quando se estava a milhares de distância. Espiar apenas com os olhos nus tornava—se um desafio, e a visão de lobo, embora aguçada em muitos aspectos, não proporcionava grande auxílio nesse território misterioso.

De repente, um corpo se aproximou de mim. Reconheci imediatamente o animal com seus olhos de cobra e um rabo majestoso de leão, mas o restante de sua forma mantinha a figura imponente de um lobo, com pelos negros que reluziam como o próprio céu noturno.

— Quanto tempo já se passou? — indaguei ao lobo que uivava, embora a incerteza pairasse, não sabia se era pela quarta ou quinta vez. Ao longe, distingui a voz de Tri.

— Cinco minutos desde a última vez que perguntou — respondeu Tri, apoiada no corrimão da escadaria, a cabeça inclinada para trás, evidenciando sua exaustão.

Consciente de que ela canalizava magia para nos camuflar contra os monstros que habitavam esse lugar sombrio, bem como para ocultar nossas presenças de olhares indesejados, eu me perguntei desde quando minha irmãzinha se tornara tão poderosa. A magia dela era nossa única defesa neste território desconhecido, e eu agradecia por tê-la ao meu lado, apesar do cansaço que marcava seu rosto delicado.

Minha memória se desdobrava diante de mim, resgatando as noites silenciosas em que Tri chorava a perda de nossos pais e dos outros membros da alcateia. Em um gesto de proteção, ela utilizou magia para me manter afastado por um longo período.

A bordo do barco, logo após o ataque demoníaco e agora, com o uso intenso de magia além de seus limites, uma preocupação crescente se apoderou de meu peito. Agora compreendia por que Valmir e minha mãe alertavam que esse sentimento me deixaria confuso.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Where stories live. Discover now