05. AMIGOS?

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A relativização do tempo é uma coisa assustadora

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A relativização do tempo é uma coisa assustadora. Se semana passada eu me acuava com a sensação de que o tempo passava mais lentamente, essa semana sinto como se ele corresse. Depois da srta. Zhong entrar em complô com a conselheira do colégio sobre eu ser solitária demais e ambas sugerirem que eu sou a melhor opção para ensinar o novato da turma a literatura oriana e, quem sabe, ser amiga dele, a quarta-feira chega rapidinho e com ela o lembrete de que à noite me encontrarei com Henry na biblioteca.

Tento convencer a mim mesma de que não há motivos para me sentir tão nervosa. Mesmo que a ideia da srta. Zhong e de Kira, a conselheira, seja a de que Henry e eu podemos ser amigos, não tenho tal consideração e me restringirei ao máximo no conteúdo da matéria. Será como um estágio extracurricular de relações estritamente profissionais para aprender a lidar com o futuro. Portanto, eu não deveria me sentir tão nervosa. Mas é muito mais fácil pensar que fazer.

Nada mudou entre nós desde que lhe entreguei minhas anotações na segunda-feira. Eu ainda pego Henry olhando na minha direção durante algumas aulas, mas acho que ele só quer observar o lado de fora do instituto e minha carteira acaba ficando na frente da janela. Fora isso, não nos falamos mais ou tivemos qualquer interação, o que me faz cogitar se ele vai levar a sério o que disse a aparecerá na biblioteca.

"Se ele não aparecer será melhor. A srta. Zhong e a Kira entenderão que não precisamos disso", murmuro, encarando o teto branco do meu quarto no dormitório. Mas o que é essa sensação ruim que se apodera do meu peito?

Sento-me de súbito e balanço a cabeça em negação. Pare de pensar demais, Amelia. Ficar pensando tanto no mesmo assunto só está começando a me confundir sobre o que quero de verdade.

Disposta a não fritar os meus neurônios com uma coisa que definitivamente não vale a pena, coloco a Fly High para tocar baixinho no meu celular e decido tomar um banho quando confiro as horas e vejo que já são seis. Nesse horário os alunos já devem estar jantando no refeitório, mas meu estômago está embrulhado o suficiente para que eu não me importe de pular a refeição.

Dispo-me do uniforme do instituto e me cubro com um roupão. Os meus banhos costumam ser relativamente longos, porque a pele maltratada exige um cuidado maior. Eles não são dolorosos como costumavam ser quando eu era pequena e as cicatrizes recentes funcionavam como bombas relógios ao serem tão passíveis de infecção, mas ainda incomodam um pouco. Preciso me certificar de limpá-las bem e de hidrata-las, as minhas inimigas. Cada relevo estranho em minhas pernas, braços e torso é como um lembrete de Feng Xin Yu e do que ela me fez. É um lembrete do porquê devo manter todos longe e do porquê a ideia da srta. Zhong e de Kira não funcionará.

Quando saio do banheiro enrolada no roupão, passo hidratante e gel no corpo, depois busco no armário por uma das minhas muitas roupas iguais e visto-me de costas para o espelho em cima da escrivaninha. Malha compressiva e calça caqui para cobrir as cicatrizes nas pernas, que são as piores; blusa de mangas longas com gola redonda para cobrir as do torso e as dos braços e ombros, além de um cardigã por causa do frio outonal.

SOBRE UM FALSO LORDE E A PRINCESA DE GELO [COMPLETO] Where stories live. Discover now