Capítulo 01 - Garoto chato

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Termino de pentear os cabelos e os prendo num coque bem apertado, com a intenção de que fique firme e no lugar ao longo do dia. Passo um batom suave só para dar um pouco de cor aos lábios e finalizo a maquiagem com algumas batidinhas de pó compacto abaixo dos olhos para esconder as benditas marcas que noites mal dormidas graças à séries atrasadas e trabalhos para corrigir me trouxeram.

Analiso meu reflexo mais uma vez, só para ter certeza de que nada está fora do lugar e a roupa está impecável, e então largo tudo na penteadeira, com a promessa mental de que vou arrumar quando voltar - embora eu saiba que não vai acontecer. Olho para o relógio na ponta da cômoda e vejo que são quase sete da manhã. Em outras palavras, quase o horário que preciso sair para não chegar atrasada no serviço... De novo.

Impaciente como tanta enrolação, corro até a porta do banheiro e dou três belas batidas que fazem a madeira tremer, e só o que recebo como resposta é o sotaque espanhol cantarolando qualquer música que não faço ideia de quem seja.

— Pelo amor de Deus, Manuela, dá para acelerar esse banho? — grito — Se você continuar enrolando, eu vou chegar tarde outra vez, e se eu for obrigada a ouvir aquela velha enchendo o meu saco por míseros cinco minutos de atraso, juro que vou pegar todo o conteúdo do ano e enfiar no....

— Ei, quer se acalmar? — diz, o seu 'portunhol', ao abrir a porta. Os cabelos enrolados numa toalha — Se sairmos daqui há dez minutos, ainda vou conseguir te deixar no colégio no seu horário.

— Ahã. — debocho — Você disse a mesma coisa ontem.

— Não tenho culpa se pegamos trânsito.

— Não teríamos pego, se tivéssemos saído mais cedo. — retruco.

Manoela me encara por uns segundos, com a sobrancelha arqueada e diz:

— Sério, Clara, você precisa relaxar mais.

Como se nada estivesse acontecendo, minha amiga de casa senta tranquilamente diante a penteadeira e tira a toalha dos cabelos longos. Pega a escova e começa a passar em suas madeixas, enquanto cantarola a música de antes.

Cruzo os braços e continuo observando. Talvez seja impressão minha por estar à um passo de encontrar-me atrasada, mas, ou a minha percepção do mundo está mais lenta ou ela está demorando de propósito.

Fico com a segunda opção.

Respiro fundo e solto o ar com toda a força que tenho. Dou-me por vencida. Sento na beirada da cama e fico olhando Manoela terminar de se arrumar. Já que vou chegar atrasada e ouvir aquela diretora encher meu saco de novo, então que se dane!

— Sabe, acho que esse uniforme de professora de escola coreana de elite está mexendo com o seu cérebro. — minha amiga diz enquanto passa rímel.

— Antes fosse essa droga de uniforme. — bufo.

— O cronograma ainda está puxado?

— Pior que isso. Os professores querem montar um programa diferenciado de estudo para o terceiro ano por conta do vestibular e isso significa que, além do cronograma, ainda terei que montar aulas adicionais para os fins de semana. Além disso, as regras daquele lugar são tão rígidas que parece até um reformatório. Certo, certo, sei que os coreanos são extremamente pontuais e blá blá blá, mas ainda acho que é um pouco demais.

Encaro o teto por um instante e suspiro.

— Não acredito que vou dizer isso, mas... Saudades da fuzarca brasileira.

IrresistívelWhere stories live. Discover now