Capítulo 77

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Já faz um mês.

Um mês desde que...

A incerteza bateu na minha porta, e entrou. Desde então, ela não foi embora.

A angústia, a saudade.

É tudo tão injusto.

E hoje de manhã, mais uma nessa semana, estou aqui logo que acordei, com a cara enfiada no vaso, de joelhos nos ladrilhos brancos e limpos.

De uns dias pra cá, estou muito mal. Pior que já estive, na verdade.

Não consigo comer direito, não consigo dormir direito... É tudo um inferno.

Um caos na minha cabeça.

Minha ansiedade entrou em um vórtex e não consigo sair dele.

Não consigo fazer mais nada.

Após dar a descarga, não consigo me levantar. Apenas fico ali, atirada no chão frio e trêmula. O frio me acalmando, o piso gélido tirando um pouco minha tontura e ânsia.

Acho que bastou olhar a data de hoje pra ficar com enjoo.

Hoje é primeiro de junho.

Com dedos trêmulos, seco as lágrimas em meu rosto.

Era pra ele estar aqui hoje. Comigo.

Aonde você tá?

"Mum?"

"Eu to aqui" respondo me sentando, recostando na parede. Dou umas fungadas e engulo em seco, tentando limpar meu nariz com rapidez. A ardência em minha garganta é incomodativa.

Tanto quanto a ardência das lágrimas nos olhos, e o nó que se forma dos soluços que querem subir goela acima.

"De novo?" Pergunta se referindo a que sempre estou vomitando de manhã. Ou outros horários. Apenas assinto, ficando quieta. "O que a mamãe tem?" Pergunta preocupada e se aproxima. "Tem que comer direito, mum... Eu to preocupada"

Apenas dou um sorriso choroso e triste.

Sei que meu estado a está preocupando, mas não consigo melhorar apesar de tentar meu melhor.

"Ando sem fome as vezes" resmungo passando a mão em seus cabelos lindos cor de cobre. "Vem, vamos pentear nossos cabelos, sim? Ou eles vão começar uma briga e nos pegar no meio"

"O seu tá horrível" ela diz, fazendo uma careta olhando pro topo da minha cabeça.

Apenas dou uma risada animada. De verdade dessa vez. "É. Está. Dá pra sentir" sussurro essa parte. "Agora, deixa eu levantar, escovar os dentes que eu vou te ajudar"

"Eu já escovei os meus" ela diz orgulhosa, sorrindo largo para eu ver.

"Isso. Muito bem. Agora, é minha vez." Me levanto e logo vou escovar.

Depois, vamos até seu quarto, ela escolhendo as roupas para o dia...

"A vovô Nikki disse que eu tenho que usar preto hoje. Ela disse na ligação ontem" ela diz cabisbaixa. "Mas é aniversário do papai... E eu queria usar amarelo... Ele gosta de amarelo..." seu olhar triste me corta o coração.

"Então use" digo simples com um leve sorriso.

"Mas ela mandou usar preto" se vira pra mim, segurando um vestido preto. Que ela adora.

"Se não quiser, não use. Não faça nada que não queira, que não se sinta confortável." Seguro seus braços. Estou sentada no chão de seu closet.

AssistantWhere stories live. Discover now