Capítulo 56

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(...)

– Tenho dias bons e dias ruins – Any murmurou depois de um tempo deitada em silêncio em meu peito. Eu corria meus dedos suavemente por suas costas nuas e a encarei quando ela falou, lhe fitando atentamente.

Apesar de estar curioso e querer saber de todos os detalhes, eu não queria pressioná-la a falar sobre sua doença – Tem dias que acordo bem e outros em que me sinto um lixo.

– Você está bem hoje? – perguntei, franzindo a testa, sem conseguir esconder minha preocupação. Ela sorriu e depositou um beijinho em meu queixo, suspirando logo em seguida.

– Sim, eu estou bem hoje, na medida do possível.

– Como assim? – enrolei uma mecha de seus cachos em meu dedo.

– Nós descobrimos o que eu tinha quando minha mãe morreu e eu fui estúpida o suficiente pra tentar me matar – ela se sentou na cama, enrolada nos lençóis, revirando os olhos pra mim.

Assenti, surpreso por fazer tanto tempo e me odiando por não ter arrancado a verdade dela na época – Leucemia aguda, tudo o que eu precisava – bufou, ironizando – Depois que descobrimos, o câncer começou a avançar rápido.

Nós estamos tentando estabilizar com alguns remédios, e eles fazem com que eu me sinta diferente – any fez uma careta – Eles me deixam inchada e... Estranha – ela tentou se enrolar mais nos lençóis, mas a parei, acariciando seu rosto com meus polegares.

– Pra mim, você parece perfeita – murmurei, sustentando seu olhar. Any suspirou e desviou o olhar, mordendo o lábio inferior.

– Quero ver se você vai continuar achando isso em um dia ruim – sussurrou, me fazendo fechar os olhos e respirar fundo, sentindo meu coração apertar.

– Você estava falando sério quando disse que está morrendo? – perguntei, baixinho, abrindo os olhos pra poder olhar a any. Ela apenas assentiu, abaixando a cabeça

– Tem certeza? Tem que ter algum jeito, any.. algum tratamento. Você sabe como hoje em dia a medicina está avançada e você tem dinheiro pra se cuidar.

– Isso não foi o suficiente pra salvar minha mãe, ou foi? – ela disse, arqueando as sobrancelhas.

Mas não consegui responder. Apenas fiquei em silêncio, observando ela e me perguntando a mim mesmo como eu viveria sem aquela garota.

Eu queria ajudá-la, queria que ela se tratasse, pensava que moveria mil montanhas se aquilo fosse preciso para salvá-la, mas ao mesmo tempo me sentia como um inútil impotente.

– Quando eu descobri, não queria me tratar – ela sussurrou, me despertando de meus devaneios – Meu plano era simplesmente ignorar e.... Morrer.

– Isso seria loucura – bufei.

– Foi por isso que te afastei josh – any continuou, ignorando minha fala – Eu queria morrer. Ainda quero. Meu plano ainda está de pé.

– Como é que é? Any...

– josh, me deixe explicar, por favor – ela pediu, com os olhos cheios de lágrimas, e eu me calei.

Queria gritar com ela e dizer que ela estava ficando maluca, mas ela parecia tão frágil e triste que eu apenas fiquei ali, encarando-a, esperando que ela continuasse – Scooter está me fazendo tomar esses remédios estúpidos, não estou fazendo porque quero, e só os tomo porque sei que não adiantam nada. Eu continuo ficando pior a cada dia.

– Isso é muito egoísmo – murmurei com amargura, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

– Você não diria isso se soubesse como é – any riu sem humor – Eu presenciei a luta de minha mãe, eu via como ela ficava depois de uma sessão de quimioterapia, eu simplesmente... Não quero isso pra mim. Prefiro morrer logo do que lutar e ser em vão no final.

O Caipira - BeauanyWhere stories live. Discover now