50| Humana tola

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Eu estava assustada. A marca em meu pulso queimava, incendiava meu corpo despertando algo dentro de mim. O quarto de Erick estava totalmente marcado com o mesmo símbolo em meu braço, as paredes queimadas, o chão com cinzas do papel de parede incinerado e o teto repleto do desenho de um circulo com linhas trançadas dentro e uma espada no meio; o símbolo das Ceifadoras. O suor escorria por minha testa, todavia meu rosto estava frio, pálido, a boca seca e os olhos ardendo. 

Os espelhos do quarto estavam vermelhos, uma névoa cor de rubi sobrevoava o ambiente. Uma mensagem fora deixada na parede em minha frente: "ESTAMOS TE OBSERVANDO. NÃO GOSTAMOS DO QUE JOGOU EM NÓS, PORTANTO, HUMANA TOLA, DELVOLVEMOS A BOLA AO SEU DEVIDO LUGAR. SUA DÍVIDA SERÁ COBRADA EM BREVE."

Eles estavam se referindo ao episódio mais cedo, onde atirei parte da decoração no espelho. Estavam bravos comigo. 

Então, os sussurros começaram, variando entre as orelhas. 

"Sabemos tudo sobre você." 

"Quando se juntará a nós? Estamos esperando."

"Não jogue mais coisas na gente, garota estúpida!"

Entre os sussurros, gargalhadas ecoavam. Tapei os ouvidos com força, mas todas aquelas vozes continuaram. Eu poderia ir ao delírio com elas, meus olhos doíam com a força que eu os fechava, minha mente enlouquecia e todo meu corpo tremia. 

— Por favor, faça parar —  sussurro baixinho para o além.

As risadas pareceram aumentar, pareciam gostar de meu sofrimento.

— Perdão, perdão, eu não sabia que os irritaria arremessando aquela maldita bola —  digo.

Por favor, implorei. Parem! PAREM!

°°°

Levantei ofegante na cama. 

Erick estava sentado ao meu lado, mas eu ainda via as palavras na parede e sombras se esgueirando pelas portas. 

Quando abracei Erick, buscando conforto e amparo, ele se desfez em em mariposas marrons, com asas grandes. Suas asas batiam forte, eu podia ouvir cada mariposas voar, cada bater de asa, e o barulho era agonizante e estridente.

De repente, estou em um gramado enlameado, com poucas árvores e as mariposas batendo suas asas em cima de mim. Estou caída e outro barulho, o de vidro quebrando em todos os lugares, faz minha cabeça doer. Tenho a impressão de meus ouvidos estarem sangrando. 

Estou tremendo, mas não de frio, de medo. Medo, pavor, horror. Aqueles barulhos eram ensurdecedores, medonhos, provocavam tremores em minhas mãos, eu sentia meu estômago embrulhar a cada ruído agudo.

Quando finalmente todos os sons pararam, o estalo de algum metal batendo em madeira começou. Tentei levantar e correr, mas tudo que conseguia fazer era me arrastar pelo gramado. Um braço após o outro, me puxei pela grama tentando buscar abrigo. Uma mão gelada puxou meu pé, eu gritei e chorei feito uma criança quando deixa o pirulito cair no chão, ou quando olha debaixo da cama, e vê  um monte de meias pensando que é o bicho papão. A mão fria me puxou e eu tentei lutar, contudo, quando me virei, uma mulher com cabelo longo e branco, pele pálida acinzentada, chifres pequenos, traços finos e olhos cor da noite estrelada, me encarou. Ela esboçou um sorriso sombrio, exibindo caninos afiados, e disse:

— Guarde bem meu nome: K.A.I.R.A.

Ela puxou meu rosto com a mão esbranquiçada e unhas longas afiadas.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now