27| Problemas de Família

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Carter


Eu estava exausto. 

A reunião sobre as guerras no sul havia sido intensa. Não era possível acreditar na decisão dos conselheiros. Talvez se Joy estivesse aqui, ela seria capaz de persuadi-los melhor.

— Carter —  ouço Kimmy chamar, quase sussurrando.

— Hum?

— Você não vai acreditar! Joy foi enviada para o Castelo da Damas, em Conrad — diz, com uma cara de espanto.

— O que?

— Exatamente! Faz todo sentido
Veja bem, sua tia a mandou pra lá para adquirir "bons modos" e também como uma punição ou vingança por ela ter feito aquele escândalo sobre as guerras. Pobrezinha, eu bem que avisei  para não arranjar encrenca! Mas ela tem um gênio muito forte, eu diria incontrolável!

— Como você descobriu isso? 

— Ora, não seja tão inocente. Tenho meus contatos, querido.

Suspiro decepcionado e irritado. Eu deveria tê-la protegido das armações de minha tia, e falhei nisso.

— O Castelo das Damas é um lugar muito perigoso. Deveríamos fazer algo para ajudá-la.

— É melhor não nos envolvermos diretamente, poderia acabar piorando a situação para a própria Joy. Vou ver o que consigo e te atualizo na medida do possível.

— Espero que ela aguente firme até encontrarmos uma solução.

Joy pode ser tudo, mas está longe de ser uma moça "comportada" e "obediente" conforme os moldes da sociedade de Conrad exige das moças.

— Joyce é esperta. Se duvidar ela é quem irá por aquele lugar à baixo.

—  Tem razão. Ela vai dar um jeito assim que perceber a situação.

— Assim eu espero.

Dois guardas de terno se aproximaram de nós.

— A Primeira Dama solicita sua presença, Sr. Carter —  avisou um deles.

Reviro os olhos.

Aceno para Kimmy e deixo que os seguranças me guiem até a sala na qual já estive um milhão de vezes.

— O que foi agora? — digo assim que abrem a porta e a figura da minha tia sentada em sua imponente cadeira de couro preto, teclando em seu computador, entra em meu campo de visão.

— Isso são modos? Acho que eu deveria enviar você para o Castelo das Damas também — rebate ela, dando uma alfinetada.

Uau. Ela nem hesita mais em esconder seu jogo.

Inspiro fundo, buscando um fio imaginário de paciência e autocontrole.

— Em que posso ser útil, vossa excelência? — A frase é a correta a ser usada nesse tipo de ocasião, no entanto minha palavras soam um tanto sarcásticas.

Ela levanta os olhos em minha direção e arqueia uma sobrancelha.

Okay. Ela tem alguma coisa ruim para me falar.

—  Estava pensando sobre seu futuro e decidi compartilhar minha visão materna para você. Algo de mãe para filho.

Sei que quando ela começa com esse papo de "mãe para filho", provavelmente quer algo de mim.

— Tudo bem, diga.

—  Observei você hoje no conselho, estou orgulhosa! Está falando como seu pai, articulando a palavra como ele.

Ela sabe que eu não conheci meu pai.

— Mas a decisão tomada por eles não foi a que eu queria, então não obtive sucesso — prossigo, mantendo o ritmo da conversa fluindo, me esforçando para não questionar sua escolha de palavras.

—  Eu te disse o que fazer, foi você que escolheu o outro caminho.

— Sua opção de "solução" não era exatamente uma solução.

Ela dá um sorriso presunçoso que começa a me assustar.

— Enfim. A comitiva real de Galadult chega daqui a três semanas, no dia da Grande Comemoração da Virtude Prospera. Organize com seus melhores homens uma guarda para ficar a disposição deles.

— Certo. Era só isso? — Pergunto, já me levantando com um certo alivio.

— A princesa real Miranda De Galadult, herdeira das terras de Galadult, também virá. Lembra daquela vez em que eles vieram também no fim do ano e vocês dois inventaram de se esconder do outro lado da embaixada? — Disse, sem titubear, já insinuando onde queria chegar.

— Não me lembro de muita coisa, éramos pequenos — afirmo, engolindo em seco.

— Kimmy ficou atrás de vocês quase a festa inteira. — continuou. — A princesa é uma boa moça, muito gentil e dócil. Ela tem a idade da Joy, mas as semelhanças acabam por aí, felizmente.

— Não — já antecipo, me afastando da mesa e sentindo os músculos do pescoço tensos.

— Mas eu nem falei nada... — fala de maneira dissimulada.

— Minhas obrigações com você acabam quando as obrigações com o governo acabam. Casamento não é uma delas.

— Pretende levar a vida como um solteirão até quando? Cedo ou tarde terá que se casar e, nem por cima do meu cadáver, será com Joyce.

— Sou eu quem decido isso.

— É o que veremos, querido.

— Sabe, tia, é uma pena que não tenha tido outro filho para manipular e controlar. Quem sabe ele seria o fantoches perfeito nas suas fantasias.

Ela muda sua expressão presunçosa para uma mais sombria, aborrecida.

— Até logo, Primeira Dama.



Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now