38| O vestido

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Kimmy

Estava trabalhando normalmente no ateliê, quando recebo a visita da Primeira Dama.

— A que devo a honra? — digo, mais debochada que o desejado.

Ela deu um sorriso amarelo e prosseguiu.

— Que vestidos lindos! Preciso de um novo — disse ela, observando os manequins com tecidos presos em alfinetes.

— Qual seria a ocasião? — perguntei.

— Uma festa, de gala, digamos praticamente um evento do ano — diz.

— Para você?

— Ah não, será um presente. Mas as medidas são a de um manequim, parecido com este — apontou para o manequim.

Semiserrei os olhos. Não tinha nenhum evento na agenda, a não ser as comemorações de fim de ano.

— Alguma preferência de cor? Alguma referência? — pergunto.

— Posso? — diz se aproximando dos manequins.

— À vontade — digo.

Ela analisou cada vestido, um a um, pegou nas sedas, olhou os bordados, até a costura percebeu.

— Este! É perfeito. Passe para a cor branca, pode ser creme, ou off-white, mas quero este — disse ela, vendo o vestido da Joy.

— Este não, ele já tem dono — digo.

— Eu quero este, Kimmy — insistiu.

— E eu falei que não. Posso fazer outro, mas esse não — repeti.

— Será que não entendeu? Eu quero este e ponto. Se não está qualificada a fazer outro, ou até mesmo modificá-lo, terei de contratar outra costureira — avisa.

— Que contrate outra costureira, estou mesmo precisando de mais mãos no ateliê.

— Catarina, não ouse me insultar — disse ela, se aproximando.

— Não sou Catarina, Lady Kristantine, sou a Kimmy.

Ela pareceu surpresa com meu tom. Nunca tinha revidado uma palavra dela, em todos esse anos, mas lembrar de minha mãe foi a gota d'água.

Eu aprendi muito com as palavras, tudo graças a ela. Seria um prazer devolver o veneno.

— Sabe que eu posso fechar este ateliê. Posso contratar outra equipe que faça este vestido — ameaçou.

— Não pode me demitir. Sabe disso melhor do que eu — digo.

— Posso demitir ele — olhou para Julian.

Julian precisava desse emprego. Ele trabalhava aqui antes de mim, me ensinou muita coisa. Mas também precisava desse ateliê.

Por mais que eu quisesse prosseguir com essa troca de farpas, não poderia arriscar o emprego de todos esses funcionários.

— Está bem. Eu faço outro vestido, igual a este, totalmente branco. Mais alguma exigência, vossa excelência? — cedi.

— Sim, quero um toque de Galadult nele. — disse, por fim.

Ela saiu do ateliê, deixando uma nuvem de estresse para trás.

— Uau! Você arrasou, Kimmy. Nunca vi uma alma viva neste planeta, retrucar a Primeira Dama tão bem — admitiu Julian.

— Nem me fale — digo, massageando as temporas.

— Catarina? Lady Kristantine? Sabia que seu nome não era Kimmy, ninguém nomeia seu filho assim, mas Catarina é tão diferente — diz.

— Julian, nem ouse me chamar de Catarina. Para você, e para todos, sempre fui e sempre serei Kimmy — digo.

— O.K, não está mais aqui quem falou. Mas, o que vamos fazer com o vestido da Joy?

— Não sei, mas vamos dar um jeito. Neste vestido, ninguém toca! — aviso.

Ela atira as mãos ao ar.

— Peguem todos os tecidos em tons branco, bege, creme e off-white, que encontrarem — digo as costureiras. — Julian, traga fotos de vestidos de Galadult, tudo que encontrar.

Pego brilhantes, cristais de swarovski , tiras de brilho e bordados na estante.

— Espero que isso não seja o que estou pensando — digo.

Temos trabalho pela frente, que o tempo esteja a nosso favor.



Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin