36| A fuga

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Acordei cedo e me arrumei. Esperaria a Senhora Hallow, para me levar ao andar dos criados. 

Ainda ontem, depois da caminhada, e antes de falar com Erick, entreguei à Liana e Tiffany o número da embaixada, para que me liguem e talvez me visitem. Foi uma despedida discreta, elas não poderiam saber da minha fuga.

Ouço o trinco da porta.

— Que bom que já está pronta — diz.

— Bom dia, para você também, Senhora Hallow — digo.

Ela apenas faz uma expressão de "irrelevante".

— Que maleta é essa? — questionou.

— Ah, isso? Eu juntei algumas roupas, para doar aos criados. — minto.

— Todos gostam de damas caridosas! 

Seguimos para o andar debaixo. Olhei o relógio e eram 6:15. Faltavam poucos minutos para a fuga.

Fui direto para a dispensa pegar a comida. Encontrei com Erick.

— Presta atenção: depois que você sair pela porta, segue em frente. Terá um lago, mas com o clima e como nevou a noite toda ele está congelado. Já testei e dá para atravessar, é só ir rápido e pisar leve. Do outro lado, podemos seguir pelo antigo caminho da ferrovia, é deserto e mais seguro. Estarei te esperando — explicou Erick, quase sussurrando.

Acenei com a cabeça.

Dei a desculpa para a criada chefe, que iria na dispensa pegar frutas para lavar. Ficaria mais próxima a porta.

Alguns minutos se passaram, eu aguardava ansiosa.

O alarme de emergência disparou. Dessa vez era diferente, parecia mais preocupante.

Corri contra o fluxo de criados, na direção oposta.

Estava escuro, mas tinha decorado o caminho. Assim que vi a luz vindo lá de fora, me dei conta que finalmente ia voltar, voltar para Kimmy, sentir Carter perto de mim novamente. 

Estaria longe desse pesadelo.

Saí da dispensa e continuei correndo. Enquanto corria, tentava arrancar os grampos do cabelo, e desabotoar o vestido. Estava com uma roupa mais confortável por baixo.

Tinham muitas árvores ao redor, então seria difícil me ver. 

Chegando no lago, era possível ver a silhueta de Erick do outro lado. 

Terminei de tirar o vestido. Vestia uma calça jeans skinny e uma regata branca. 

Estremeci ao pisar no gelo. Tinha muito medo do gelo quebrar. O frio também não ajudava.

Já estava quase na metade do lago, quando ouço um machado fincando no gelo.

Me virei para ver o que era e Cora estava tentando quebrar o gelo com um machado. Ele rachava cada vez mais.

— VOCÊ NÃO VAI FUGUR! NÃO COM ELE, ANTES VOCÊ AFUNDA NESSE LAGO! — gritou.

Meu Deus.

Não poderia arriscar voltar, se eu caísse ela não me ajudaria, se eu conseguisse voltar a margem ficaria presa aqui para sempre.

Comecei a acelerar o passo, estava quase correndo.

Erick parecia aflito.

Quase perto da margem, joguei minha mala para ele, que a pegou em seguida.

— Corre Joy, corre — gritou Erick.

Mais alguns passos e eu estaria livre. 

De repente o gelo quebrou e eu caí. Entrei em desespero, a água estava congelante e eu não sabia o que fazer.

Eu queria gritar, nadar, mas estava tão frio, e eu estava tão desesperada.

Sinto algo me puxar pelos braços, percebo que era o Erick.

O lago estava fragmentado,  ninguém poderia atravessa-lo mais.

Estava muito frio.

— Joy, eu sei que isso é péssimo, mas você precisa aguentar mais um pouco. — diz me levantando.

Eu não sabia como estava em pé ainda. Corremos até a estação ferroviária, Erick praticamente me arrastava.

— Descobri que um trem passa aqui em 3 minutos, estamos a dois minutos dele. Só mais um pouco e estamos livres —disse ele.

Corremos e eu estava congelando, mas não podia desistir, não agora.

Ouço o apito do trem, já conseguimos enxerga-lo.

Era um trem de carga. Erick jogou a mala para dentro e em seguida subimos.

No mesmo instante, o trem partiu. Se atrasássemos por um segundo, não conseguiríamos embarcar.

— Conseguimos, Joy, a gente conseguiu — me abraçou.

Eu não sentia mais nada, apenas frio e cansaço.

Fechei os olhos e caí. 

°°°

Abri os olhos. Já era noite, e estava envolvida em um pano. Minha cabeça doía e o frio ainda estava presente.

O vagão era diferente do que embarcamos. Era mais quente e tinha sacos de carvão ao redor.

— Joy, que bom que acordou. Fiquei com medo de não acordar — admitiu Erick.

— Estou melhor — menti.

— Vou fazer um chá, pode ajudar a passar seu frio.

Ele abriu sua maleta, tinham mais ervas em saquinhos, do que roupa. Ele aqueceu a água perto do carvão que queimava na parede da frente.

— O que Cora quis dizer com "não vai fugir com ele"? —pergunto.

— Cora cismou comigo. Estávamos nos conhecendo melhor, mas ela andava atrás de mim. Enquanto falava no telefone, descobri que ela me observava, não sabia se tinha escutado algo, então apenas ignorei. Agora vejo que escutou. 

— E você falou o que nesse telefonema, explicou nosso plano para alguém?

— Não, só perguntei sobre o lago a um lenhador da redondeza. Ela deve ter concluído algo e ligou os pontos. — explicou. 

Dei um gole no chá, era docinho e quente.

— A viajem vai demorar, se fossemos com os trens mais novos levaria uma semana até Pandora, de avião algumas horas, mas de trem talvez leve duas, ou três semanas — contou.

— Sim, e ainda vamos ter que trocar de trem algumas vezes, para despistar a atenção — concordo.

Ele se sentou do meu lado. Recostamos sobre a parede.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAWo Geschichten leben. Entdecke jetzt