52| A Senhora do Pesadelos

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Após ir ao meu quarto, tomar uma ducha e descansar, dirigi-me ao quarto de Erick, como o prometido. Ele me contou mais sobre a guarda imperial e eu sobre minha missão.

Me lembro vagamente de adormecer na cama de Erick, enquanto lia o prólogo do livro que roubara. Ainda estava com a calça preta, a jaqueta sobreposta à blusa, porém sem calçados, apenas mau pé em contato direto com o chão de terra marrom e fria, talvez úmida. 

Eu tinha a sensação, a impressão, de que certamente estava em um de meus pesadelos. De novo.

Dessa vez fiquei enfurecida por estar nesse filme de terror novamente. O que viria agora? Uma aberração chamada Kaira, uma piscina de sangue ou os mortos que ajudai a morrer com bestas nas mão me caçando?  

Focaria em tentar acordar; procurei água pela floresta, para jogar em meu rosto e forçar-me a despertar. Sabia que era inútil me beliscar, mas não descartaria nenhuma tentativa.

Ouvi um grito estridente dos corvos em uníssono, em seguida , eles sobrevoaram o céu, manchando a luz em nuvens pretas. Assim que o azul escureceu, corri para encontrar qualquer lago.

Abaixei-me para pegar a água do lago diante de mim. Fiz uma concha com a mão e levei o líquido até o rosto. Esfreguei-me diversas vezes, até quase esfolar o rosto. Já sentia as bochechas arderem do atrito de minha mão na pele macia.

Eu não estava acordando.

Minha espinha gelou, senti um frio na barriga. Em certo ponto, eu  já não sabia mais distinguir a realidade da ficção em minha cabeça. Às vezes os detalhes eram tão reais, que pareciam de verdade.

Percebi o fundo do lago se agitar, como se algo estivesse tentando emergir. O primeiro impulso fora correr, contudo, eu não comandava meu corpo. Fiquei apenas parada, encarando as ondinhas leves que surgiam, esperando a coisa chegar a superfície.

Burra. Burra. Burra.

Por que não está correndo?

Quando a coisa finalmente subiu, perdi o fôlego. Minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram.

Era uma sereia, com pele desbotada, boca costurada, e buracos pretos profundos no lugar dos olhos. Seu cabelo era de um azul claríssimo, como a pele, porém sem brilho nenhum, também.

Ela puxou meu pescoço e me afundou no lago. Tentei agarrar o chão, porém, em menos de um segundo minha boca se encheu de água, e as algas pareciam se agarrar em mim.

Não sentia meus pulmões. 

Em um ato desesperado, impulsivo, tentei respirar, mas tudo que fiz foi engolir água.

Tentei me soltar da sereia, porém, ela não pareceu se abalar, com meus chutes sem impulso, e continuou me puxando para baixo pelo pulso.

Minha garganta e nariz queimavam, havia água em meus pulmões, meu corpo estava fraco e eu perdia as forças à medida que avançávamos. 

Eu estava afogando.

°°°

Acordei em um quarto preto, sentada em uma poltrona, um trono, acolchoado com tecido de veludo vermelho, almofadas. A madeira escura era torcida, em cada volta haviam diamantes encrustados e pinceladas de ouro.

Seca. Viva. Sem água ao redor, aparentemente. Sem sereias.

Tentei levantar, porém correntes invisíveis pareciam dispostas a me manter presa ali.

— Joy, o fim de um ciclo se aproxima, o começo de outro será em breve. Passado ainda habita em você, parece não aproveitar o presente e... bem, o futuro parece não te perturbar.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora