11| Estrelas no céu

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O ar fresco das arvores ao redor do salão era revigorante.

— Hm, a noite não está mais estrelada, agora está nublado — digo.

— Sim — concorda Carter, — provavelmente irá chover.

Caminhamos até próximo dos limites do gramado externo do salão. Lá algumas arvores mais alongadas apareciam.

— Carter — chamo.

Ele se vira para me olhar.

— Preciso tirar esses sapatos, estão me matando — afirmo.

— Posso pedir para um dos guardas trazer um confortável para você — diz.

— Não precisa, eu posso ficar descalça por agora — digo.

— Joy, não é muito recomendado ficar descalça na floresta. Vamos ficar por aqui — ele tira o terno e apoia no chão.

— Que isso Carter? O que está fazendo? — falo, rápido demais.

— Não precisa ficar com seu pé na terra, pode pisar no meu terno — oferece, já com o terno no chão.

— Carter, um terno é ridiculamente caro e difícil de lavar. Vai mesmo apoiar no chão por mim? 

— Não se preocupe, quanto a isso eu dou um jeito — fala.

Inspiro, ainda pensando se deveria fazer o coitado sujar seu terno mas, ele não parecia desistir fácil.

Me rendi, pisei com dó no terninho dele.

— Consegue ouvir? — pergunta.

— Hum, o que? 

— Os animais, se você reparar, dá para ouvir uma coruja um pouquinho distante — responde.

Alguns minutos e consegui ouvir.

— Que legal! — sussurro.

Sinto uns pingos de chuva tocarem minhas mãos.

— Carter está chovendo — digo.

— É melhor voltar lá pra dentro — afirma.

— Não, eu adorava brincar na chuva com meu pai. Era legal lá na fazenda, isso me faz lembrar deles — suspiro, como se pudesse sentir eles de novo.

Carter me encara.

— Fazenda?— questiona.

— É, mas provavelmente não vai entender — afirmo.

Fecho meus olhos e levanto a cabeça para o céu, sentindo os pingos caírem sobre meu rosto e lembrando dos bons momentos com meus pais.

— Que foi ? — viro meu rosto para Carter e ele me observa.

— Você está tão linda! — diz.

— Hahaha, molhada? — digo.

— Sim.

— Vem, vamos dançar — minha vez de propor.

A valsa era contada pelas gotas da chuva. Meu vestido já estava pesado de tão molhado e Carter com a blusa encharcada. 

— Melhor a gente voltar, vão dar nossa falta — insiste.

Estávamos perto demais, quase dividindo a mesma respiração, compartilhando do mesmo silêncio, mesma batida das gotas e do mesmo momento.

Um beijo foi suficiente para dizer tudo.

— Carter, o que estamos fazendo? — digo, ainda próxima a ele.

— Não sei mas eu gosto — responde.

— Sim, eu também gosto disso.

Retomamos o fôlego e voltamos a nos beijar.

°°°

De volta ao salão de festas, entrei pelos fundos e fui direto para o banheiro.

Procurei toalhas e achei algumas. 

Carter havia dito que voltaria para a embaixada.

— Kimmy, preciso da Kimmy — murmurei.

Enxuguei o máximo do cabelo que pude e torci a bainha do vestido; mas, não foi suficiente, ainda estava pingando.

Com sorte, Kimmy estaria no andar de cima conversando com alguém.

Passar despercebida não era uma tarefa fácil, ainda mais quando se está molhada.

O sapato escorregava várias vezes, devido a lama ao redor dele.

Avistei Kimmy e corri em disparada a ela.

— Kimmy! 

— Joy, o que aconteceu com você? Está encharcada! — diz assustada.

— Longa história, agora me ajuda a voltar pra embaixada — peço.

— Garota, você pode ficar doente com essa roupa molhada! Vamos logo!

Kimmy providenciou um carro rapidamente e voltamos para embaixada.

Chegando na embaixada, fomos direto para meu quarto.

— Vai me dizer tudinho o que aconteceu, senhorita! — esbravejou Kimmy abrindo a porta.

— Nada de mais, só peguei uma chuvinha — falo.

— Seu vestido está destruído! Todo molhado e, espera, isso aí na bainha é terra? Joy, tem noção de quanto vale este vestido? Muitas jovem dariam a vida pra usa-lo! 

Kimmy ajudou a abrir o vestido e a tirar as joias da cabeça.

Tirei o saquinho do presente de Ben da minha bolsinha.

— O que é isto? — perguntou Kimmy.

— Foi um presente de Ben, ele tem sido muito generoso comigo — digo.

Ela sorri.

Entrei na banheira com água quente e sais perfumados.

— Como você foi se molhar tanto? Ficou fazendo o que do lado de fora da festa?  Espera, você foi a floresta? — questionou Kimmy.

Apos analisar em silencio, se valia a pena contar a Kimmy o que tinha acontecido, decidi que sim.

— Está bem, vou te dizer mas, é segredo, não conte para ninguém! Se contar, eu juro que assassino todas suas bolsas e perucas! — falo brincando.

— Hum, então é serio mesmo — disse Kimmy.

— Não sei por onde começar. Hum, eu estava dançando com Carter, e ele propôs que fossemos caminhar. Fomos até a floresta, conversamos um pouco e começou a chover... — faço uma pausa, avaliando se deveria mesmo falar — E nos beijamos. Foi isso — digo por fim.

— Vocês, O QUE? — fala Kimmy alto demais.

Ela põe a mão na boca, para abafar a risada boba de nervosismo.

— Vocês se beijaram? — diz Kimmy.

— Shhh, Kimmy. É segredo. Não temos nada ainda, nem sabemos se vamos levar isso adiante, talvez tenha sido apenas momentâneo — falo.

Ela inspira fundo se recompondo.

— Eu sabia que cedo ou tarde isso iria acontecer, mas não tão cedo assim — afirmou.

— Por que? 

— Porque vocês sempre tiveram algo, era muito discreto mas as vezes eu conseguia perceber — disse ela.

Sai da banheira e Kimmy me entregou a camisola. Ela penteou meu cabelo e nos despedimos. 

Aquela teria sido uma longa noite. 

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now