45| Espelhos Mortais

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Passei a noite remoendo a proposta ousada que a Primeira Dama fizera. Erick precisava do dinheiro, e aceitaria facilmente, sem pensar duas vezes a proposta.

Não que fosse ruim, afinal de contas, seria como atuar em frente as câmeras e ainda seria paga por isso. O problema em si, era a forma sorrateira em que a Primeira Dama introduzia Erick ao seu mundinho, prendendo-o a uma divida eterna. Divida. Esta era a palavra perfeita, visto que uma hora o contrato teria que chegar ao fim, e de uma forma ou de outra, ela daria um jeito de criar uma divida com ele. Contudo, por que não aceitar a minha oferta? Ele ainda estaria livre, e, de mais a mais, nunca iria cobrá-lo de volta. Talvez seja porque Erick é teimoso, só segue seu próprio umbigo.

Estaria sendo egoísta de não aceitar? Afinal de contas, ele precisa do dinheiro.

Argh! Ela continua me cercando de dúvidas e mais problemas, não tem um misero dia em que posso descansar a mente e encontrar uma solução para os demais.

Virei para o outro lado da cama novamente, na esperança de encontrar a posição perfeita. Levanto, por fim, da cama e dirijo-me até a jarra de água na mesinha logo a frente; em seguida, peguei uma das pílulas que me garantiriam um bom fim de noite, pelo menos. Antes de leva-las a boca, pensei na opção de passar mais alguns minutos pensando na resposta do que daria daqui a algumas horas.

Escuto assobio do vento percorrer o quarto imenso. A janela não estava aberta, então não teria brisa nenhuma vinda de fora. Se não de fora, de onde mais viria?

Uma luz azulada refletia no espelho, quando aproximei-me, percebi que a luz não vinha de fora, mas sim, estava no espelho.. Era igual a luz do meu quarto quando caí aqui. Ao olhar para trás, verifiquei se a luz realmente não vinha de nenhum dispositivo, e fico boquiaberta ao perceber que não. Vinha verdadeiramente do espelho.

Senti-me seduzida, tentada e atraída pela luz dentro do espelho. Aos poucos, minha mente esvaziava e apenas o brilho da luz a habitava.

— É... lindo! — murmurei, sem pensar duas vezes.

O espelho longo de parede, com ornamentos em madeira de mogno e pequenos cristais - negros e transparentes - formando corvos pequenos. Ele era retangular, nada estreito, e eu gostava de guardar algumas de minhas adagas e punhais favoritos atrás dele.

Ao tocá-lo, minha mão atravessou por completo.

Como era possível isso acontecer novamente?

Retirei a mão rapidamente. A sensação era a mesma de meses atrás: estar sendo atraída e chamada para dentro. Não era como uma ordem, um comando, mas sim, uma curiosidade, talvez até uma necessidade.

Atravessei. Por maior que fosse o medo, a tentação era duplamente mais forte.

Que diabos está acontecendo?

A sensação era de estar sendo lambida pelo vidro do espelho. A medida que eu avançava, mais cortes leves e arranhões surgiam na minha pele já marcada. Quanto mais medo e dor eu sentisse, as agonias e arranhões aumentavam. Quando finalmente terminei de atravessar, cheguei a uma sala escura, que era iluminada apenas pela luz azul.

Uma espécie de liquido prateado começou a surgir no chão e a subir pelo meu corpo. Tentei correr, mas meus pés estavam grudados no chão de alguma forma. O líquido atingiu meu rosto, cobrindo tudo, até o último fio de cabelo. Era quase impossível respirar. A substancia metálica escorreu para baixo de novo, revelando novas roupas.

Eu desconhecia o tecido preto brilhoso, tão fino e delicado, que parecia ainda ser o líquido. Era um macacão justíssimo ao corpo, com uma cauda, como uma saia, longa de tecido. A gola era alta e confortável.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDATahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon