Capítulo Especial

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Lar das Sete Ceifadoras, berço do universo.

Kaira

— Relatórios. Na minha mesa. Agora! — Esbravejei, para ninguém em especial.

— Joy não aguentará muito tempo, não em suas atuais condições. A Dama Preta fez seu movimento, planeja destruir a garota, e parece estar conseguindo. Joy morrerá em algumas horas, caso não façamos nada — disse Endorn, carregando papéis em uma pasta.

— O que sugere? — Apoiei meus pés na mesa.

— Podemos chamá-la agora. Vamos buscá-la e demos início ao Ritual de Iniciação para as Ceifadoras. — Endorn parecia não gostar da própria sugestão, ao proferir as palavras com amargura.

— E você, Khepri, o que sugere?

— Não acho uma escolha sábia trazer a garota, não agora. Ele não está preparada o suficiente, poderia estragar nossos planos, e chamar atenção desnecessária — disse ela.

Lupa observava nosso diálogo de longe, encostada na janela, apenas com os ouvidos atentos e olhos focados na paisagem afora.

Ragna avançou, e disse:

— Por que ela é a escolhida, mesmo?

— Calada! Não diga nada, que eu não pergunte. Não gaste minha paciência com perguntas tolas — digo, despejando as palavras com acidez.

— Não sou mais uma subordinada, não preciso mais da sua permissão para falar! — protestou ela.

Me teletrasportei em sombras até a metade do escritório imenso, onde Ragna estava.

Parei a um centímetro dela.

— Perdeu a noção de perigo, cobrinha? Esqueceu de sua posição aqui? — disparei.

A cobrinha iria responder, caso Anansa não tivesse intervido:

— Ei, sem brigas por aqui, não temos tempo para isso. Foquem no nosso problema em questão.

Esperei Ragna recuar, ela parecia queimar por dentro. Fogo puro.

— De onde raios você saiu? — perguntei, para Anansa.

— Vim assim que senti a tensão do ambiente, parece que estão queimando seus neurônios por aqui — falou debochando.

— Anansa, já que é a mais sensata entre nós — Endorn e Kepri me olharam com raiva — o que devemos fazer: salvar nossa próxima possível Ceifadora, ou espera mais cinco séculos por uma outra? — perguntei.

— Ela ao menos é poderosa? Qual seu clã? Algum conhecido? — questionou, sentando-se próxima a Lupa, em um divã na parede da janela.

— Ela é da Terra, no Sistema Solar. Isso já diz muito — insistiu Ragna, em me desobedecer.

Lancei um olhar congelante para a cobrinha, que retribuiu com chamas nos olhos.

— Tenho preguiça de esperar mais séculos, essa casa, essa eternidade, está muito monótona. Vamos salvá-la, e caso ela seja uma ingrata, matamos a garota, ou o próprio Oráculo o fará — falou Anansa, limpando as unhas.

— Na semana passada matamos três  Venons, três bestas selvagens da espécie Venon. Você acha isso, tedioso? — protestou Khepri.

— Tanto faz, então vamos salvar a garota. Bem, espero que o Oráculo esteja muito certo sobre ela, caso contrário, nossa vida se tornará um circo, seremos levadas como patéticas pela eternidade — digo.

— Ótimo, vou preparar as coisas na casa e o enxoval! — Só faltou Anansa dar pulinhos de alegria.

— Anansa, é só uma garota, não vai parir um bebê — falou Khepri, rindo.

— Ela será o novo bebê. Ragna, você está oficialmente destronada do posto de Yan, a mais jovem — cantarolou Anansa.

Ragna revirou os olhos, com uma expressão de desdém e saiu do escritório, com seu vestido em escamas de cobra verde com prata, farfalhando no chão.

— Endorn, prepare os Aureus, e faça contato com O Espelho. Avise o que está acontecendo, veja as melhores formas de trazer Joy para cá — ordenei para a mulher, com cabelos perfeitamente arrumados para trás, preto como penas de corvo.

Ela acenou e se transformou em um corvo com um bater de asas, saindo pela janela aberta em seguida.

— Khepri, consulte as Feiticeiras e videntes, pergunte como está nossa sorte e o futuro. Qualquer coisa suspeita, venha falar comigo. Depois, leia o Oráculo, e o compare com as previsões que receber — ordenei a Khepri.

— Claro, farei em menos tempo possível — respondeu.

— Anansa, prepare o quarto da garota com a criadagem, estude seus gostos, vou te enviar o que Endorn descobriu nós últimos anos.

— Sim, senhora. — Anansa era outra, que adorava me testar.

— Lupa, verifique a segurança da casa, em sua ronda diária, pode chamar Aureus se quiser. Caso encontre com Ragna, avise que a quero em minha sala até o fim do dia — pedi para Lupa.

Ela acenou em positivo e saiu pela porta, fechando-a em seguida.

Me sentei na cadeira grande e macia de couro preto, da escrivaninha.

Peguei os papéis a minha frente e comecei a pensar em uma forma de salvar Joy, a próxima Ceifadora, novo problema.

— Parece que temos trabalho a fazer — digo para minha sombra, que expreitava na parede, bisbilhotando o que escrevia.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now