prólogo

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A COURT OF SHADOWS AND NIGHTMARES

PRÓLOGO

    Não era incomum que todos naquele lugar escuro, deteriorado pela passagen de dezenas anos sem qualquer cuidado, acordassem no meio da noite ao som de gritos, ou outros ruídos duvidosos, que poderiam tanto se propagar através das paredes dos bordéis para dentro daquilo que chamavam de casa, quanto das ruas e seus perigos.

    Alguém estava sempre sujeito à morte, e alguém sempre propenso a ser uma vítima. Silvos de agonia não eram novidade para ninguém. O som extenuante de ossos sendo quebrados, socos sendo trocados, espadas e adagas saindo de suas bainhas e flechas assobiando através do vento com um alvo certo. É algo ao qual o povo da Corte estava acostumado.

    Ninguém se surpreendia com esse tipo de coisa, todos acreditavam que era algo inerente à eles. Eram todos ladrões, prostitutas e assassinos da pior espécie. Esse era o legado daquela gente. Cruéis. Com pedras de gelo no lugar onde deveria repousar seus corações pulsantes.

    Mas enquanto corria, depois de ser acordada no meio da noite com sua porta sendo esmurrada, se esgueirando habilidosamente, pés ágeis e a vantagem de ser pequena se manifestando enquanto desviava de corpos e mais corpos, em direção a comoção que acontecia naquele exato momento no salão externo da residência de um dos mais importantes comerciantes da área, aquele que controlava o Mercado das Facas, e a quem ela planejava roubar em breve, assim que tivessem um plano seguro o suficiente, Asteria não sentiu o sopro congelante que deveria haver em sua respiração.

    Seu peito não estava oco. Não havia um espaço vazio ali naquele lugar onde suas costelas se encontravam. Não havia um bloco de gelo cristalizando seu órgão vital. Mas sim um peso ardente e desesperado. Asteria sentiu o peito inflar. Os pulmões se expandindo. Ela saltou através das ruas escuras. Seu batimento aumentando a medida que seus pés aceleravam. Não houveram vacilos, pisos em falso ou hesitação. Tudo o que conseguia fazer era correr e pensar que não chegaria a tempo se não corresse o suficiente.

    Então ela correu mais, os cabelos escuros se soltando de sua trança, o capuz descobrindo o rosto magro e consumido pela miséria e sensação contante do desespero de pensar que estava sempre lutando pela própria vida. Correu até quase sentir o sangue correndo entre as veias, com uma eletricidade pulsante que ela sabia ser um mal sinal.

    Asteria derrapou ao se esquivar rápida e furtivamente dos últimos corpos que a impediam de chegar ao seu objetivo final. A multidão parecia nunca acabar. Ela ouviu algo semelhante a um uivo. O povo não estava quieto. A fêmea sentia a vibração emanando deles, e mesmo quando o oficial que parecia estar no centro de tudo falava, as pessoas não se calavam para ouvir. Eles gritavam. Loucos e sedentos por uma chance de presenciar esse tipo de entretenimento público. Já estavam acostumados, mas naquele momento não parecia.

    Asteria sentiu seu próprio suor esfriar, de repente muito ciente das reações do próprio corpo. O barulho das vozes ecoando no espaço soando como uma espécie de oração. Não rezando para nenhum tipo de deus. Mas sim entoando para o show, a demonstração de quem detinha o poder ali e o que acontecia com aqueles que o desafiavam.

    A ameaça no tom do oficial era clara, como um aviso aos outros. Ainda assim eles vibravam. Asteria nunca quis tanto vomitar em toda a sua vida. A sensação de ânsia só não era maior do que a vontade de puxar uma faca da manga e arrancar sangue de quem quer que estivesse ansiando por aquela execução. Asteria sentiu o ar expirar para fora de seus pulmões. A multidão vibrou. Ela não teve tempo de correr mais rápido quando alcançou a frente, e naquele instante ela soube que aquele seria um momento crucial, segundos de sua vida que ela carregaria consigo para sempre enquanto vivesse.

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora