capítulo 14

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CAPÍTULO 14

    O encantador de sombras percebeu que havia algo que ele tinha sentido poucas vezes na voz de Asteria. Terror. Sua voz baixa se infiltrou nos ouvidos dele e sua pele se arrepiou completamente, como se levasse uma descarga elétrica. 

    Mas naquela fêmea também havia mais do que aquele terror e estremecimento de postura, havia obstinação em seus punhos cerrados e costas eretas. O que fosse que Asteria tinha visto além do que os olhos dele podiam ver e seus ouvidos pudessem ouvir, havia causado temor, mas também a deixou pronta para algo. Azriel desconfiava, um combate. Mas com o quê e com quem, era o que ele ainda precisava descobrir. 

    Azriel sentiu a urgência de perguntar a ela, mas ele sabia que apesar de tudo, apesar de todos os beijos, toques, gemidos e sussurros torpes que haviam trocado naquela tenda e sob aqueles lençóis, no final Asteria ainda era Asteria, uma prisioneira vinda direto da cidade escavada, alguém que sabia de segredos dos becos mais escuros e pessoas mais influentes. Alguém que não hesitaria em esfaqueá-lo pelas costas.

    Mesmo seus pensamentos sobre ela antes tinham sido inadequados. 

    Não errados, ele não diria isso a ela, nem a ninguém mais. Mas ele tinha certeza de que ela pensava isso, que era um erro. Ele ainda era o espião mestre da Corte Noturna e não estava passando seus dias no acampamento como se estivesse tirando férias, e mesmo se fossem férias, o acampamento seria sua última opção, ou sequer estaria na lista de opções. Azriel havia sido incumbido a uma tarefa, ele tinha essa missão, que se restringia a descobrir o que Asteria soubesse, e mantê-la longe de problemas até que Rhysand pudesse averiguar por si mesmo. Desejar aquela fêmea não fazia parte da missão, embora se tornasse cada vez mais difícil manter as duas coisas em esferas diferentes. 

    Azriel olhava para ela e enxergava uma espada de dois gumes, e ainda que ele tentasse muito, ele sabia que no final acabaria se cortando. 

    Ele a encarou com olhos âmbar, suas íris de cobre como dois sóis poentes iluminados pelas luzes feéricas, esperando, analisando. O olhar de Asteria foi duro, ela havia mudado sua expressão de terror preocupado para algo munido de uma aura intrépida, a face de um soldado, de um guerreiro. Ele viu que os olhos dela haviam mudado, brilhavam como uma tempestade de raios. Como a tempestade que havia cessado. 

    — Precisa me deixar ir. Agora. 

    Azriel se empertigou.

    — Não posso simplesmente deixar que você vá, Asteria. 

    — Você não entende

    — Então me explique. 

    Asteria não tinha tempo para pesar suas decisões, não tinha tempo para pensar em seu ódio, ou em seu rancor, ou em como ela havia mantido sua maldita boca fechada até agora. Por mais que ela se sentisse inclinada a apenas se sentar e resolver não fazer nada sobre o que poderia acontecer se ela não fosse rápida em suas decisões, ela ainda pensava naquelas pessoas. Todas aquelas pessoas vivendo naquele acampamento poderiam morrer naquela noite, e ainda que ela dissesse que não se compadecia por eles, ela não queria carregar o fardo da culpa pela morte de mais ninguém. Havia Cora, ela pensou, a illyriana grávida. Estou fazendo isso por Cora, e para que sua pequena garotinha tenha uma chance; foi o que ela disse a si mesma. Por Cora, e minha consciência e mais ninguém. 

    — Merda — ela amaldiçoou o nome de Azriel, mentalmente, é claro — Antes de te dizer, eu preciso que me responda rápido. Aquele guerreiro, preso no subterrâneo, qual era a aparência dele pela manhã? 

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora