capítulo 07

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CAPÍTULO 7

    Asteria sabia que para fugir daquela cela ela precisaria dominar os dois guardas, o que estava constantemente vigiando ela, e aquele que lhe trazia comida e água duas vezes por dia. 

    Mas para isso ela tinha duas opções: conquistar a confiança de ambos e convencê-los a ajudá-la a sair, ou usar seus poderes para persuadi-los. Porém, notou que haviam falhas em ambos os planos. 

    Primeiro, aqueles guardas estavam longe de confiar nela, o mínimo que fosse. Não havia um minuto sequer que ela fosse deixada sozinha, um deles estava sempre espreitando, de uma distância segura. Um deles, reparou Asteria, sempre olhava para ela de esguelha, com repugnância e medo, como se ela fosse a criatura mais abominável que ele já pusera os olhos.

    Asteria sabia o motivo, ou pensava saber, sua especulação se baseava no fato deles desconfiarem de sua raça. Mesmo que ela sempre tentasse disfarçar seu cheiro, ou o brilho sobrenatural em seu olhar, algo sempre parecia denunciá-la. E, tendo ciência dos preconceitos daquele povo, tinha certeza que uma suspeita sobre o que ela era já os deixava cem por cento mais alerta e desconfiados.

    A segunda opção, pensou Asteria, estava totalmente fora de questão. Ela havia usado seus poderes antes, e tinha acabado da pior forma possível. Asteria não queria se lembrar daquele episódio, mas ele constantemente voltava a sua mente. As rachaduras na pedra, o céu escuro, o barulho alto de explosão. 

    Décadas mais tarde, e ela jurava que ainda era capaz de ouvir o barulho, e sentir o cheiro de queimado enquanto toda uma estrutura de rocha desmoronava. 

    É claro que seu poder não estava reprimido em sua totalidade, apenas a parte que ela mais temia estava oculta. A outra parte, inofensiva para ela, continuava sob sua pele, viva, o único motivo pelo qual ela ainda mantinha essa parte de si era porque precisava dela. Se aquele brilho fraco que permeava sua pele e aparecia em seus olhos fosse reprimido, não restaria nada além de uma casca sem vida.

    Os de sua espécie estavam fadados a isso, e Asteria nunca poderia se livrar completamente disso, mesmo que as memórias a atormentassem. Aprendera com uma velha que conheceu ainda em sua juventude, encontrou a fêmea em uma caravana que estava passando pelas montanhas, antes da praga aparecer, ela dizia ser um oráculo, o qual detinha o poder da vidência, e Asteria, na época mais jovem e mais tola, duvidou. 

    Mas, ao entrar na tenda da fêmea e poder ver seus olhos, ela percebeu que, apesar de uma cor diferente, os olhos do oráculo cintilavam com um brilho que refletia os olhos da própria Asteria. O oráculo era uma delas, e, além de sua mãe e de si mesma, Asteria nunca havia encontrado outra de sua espécie. 

    O Oráculo lhe convidara para entrar na tenda, desde que ao ver os olhos cintilantes e leitosos da fêmea, Asteria havia estacado na entrada da mesma. Assombrada, pelo reconhecimento. O oráculo disse que se chamava Haya — que significava vida. A princípio, Asteria tinha entrado, mas desconfiada, então, a fêmea lhe perguntou se ela gostaria de ver seu futuro, o que Asteria negou. Haya tinha sorrido então, o que, na ocasião, deixou Asteria ouriçada, pois era um sorriso sábio demais, mas que também escondia muito.

    Então Haya lhe disse que sabia que ela estava curiosa, que podia ver isso nos olhos púrpura da fêmea mais jovem. Mesmo que aqueles fossem olhos cor de leite, olhos cegos aparentemente, podiam ver mais do que a visão de águia mais aguçada. E Asteria temeu, quando aquela fêmea ergueu o braço, os dedos longos e unhas quebradas, tocou suavemente o centro de seu peito, e Asteria tinha sentido como se tocasse mais fundo, sob a pele, através dos ossos, no lugar onde deveria estar seu coração. 

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAWhere stories live. Discover now