capítulo 04

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CAPÍTULO 4

    A fêmea acordou em uma cela. Uma escura, minúscula e opressora cela. Presa e desarmada, com a sensação de ter levado uma surra daquelas como em seus velhos tempos inexperientes na Arena.

    Asteria havia pensado que seu receio de estar em lugares pequenos e fechados tinha sido um obstáculo superado anos antes. Mas aparentemente as alcovas diminutas ainda a deixavam com um aperto no peito.

    Seu captor não parecia incomodado com o ambiente abafado e tenebroso. Na verdade, ele parecia confortável, já que estava envolto por sombras densas que pareciam vir de todos os cantos escuros da cela. Ela não estava com medo daquela escuridão que o rodeava, sussurrando e mostrando coisas para ele que ninguém mais era capaz de ver ou ouvir.

    Não, Asteria não estava com medo. Não da forma que deveria estar. Ela sabia que encantadores de sombras eram raros, cobiçados pelos poderosos pelo seu dom incomum. E ali estava, um deles bem na frente dela. Asteria não sabia muito sobre aquela habilidade, como era adquirida, de onde havia surgido, alguma herança genética, ou... outra coisa.

    "Eu deveria estar apavorada," ela pensou. Estava encolhida sobre um colchão de palha, imundo e nem um pouco confortável. Tinha despertado, sem fazer barulho ou se precipitar em seus movimentos, os olhos violeta continuavam fechados, ela estava imóvel, mas no fundo tinha certeza que o macho que a observava sabia que ela não estava mais desmaiada.

    Seu pensamento sobre sentir ou não medo continuava lá, permeando sua mente, tentando abrir uma porta que ela mantinha trancada a sete chaves. Uma muralha, inquebrantável. Ela deveria deixar isso entrar, não deveria? Parecia familiar, como se a conhecesse. Uma carícia, que ela repeliu suavemente com um suspiro. Mas ainda estava lá, como uma mão estendida para ela, sussurrando: "Você sente medo de mim?"

    Asteria ofegou. Aquilo estava distante de seus bloqueios mentais, ressoando. Uma melodia incomum, suave, que Asteria não ousou responder.

    Em vez disso, ela murmurou, mal humorada:

    — Consigo te ver aí, você sabe. Independente de seus talentos como espectro-espião das sombras. Ainda não é como se você fosse invisível.

    Ela pensou que o macho não fosse responder a sua provocação mesquinha, mas ele elevou sua voz, que ela sabia soar firme, mas em um tom surpreendentemente suave para alguém que estava tentando intimidar um refém:

    — Não estou me escondendo de ninguém.

   — Tentando me intimidar, então? — ela deu uma risada seca — Não está funcionando. Não funcionou antes, nem agora, nem depois.

   — Disso eu discordo — disse ele, impassível. — Conheço muitas formas de persuadir.

    Asteria se levantou do colchão de palha, e percebeu que estava acorrentada. Grilhões em seus dois tornozelos, presos em ganchos grossos fixos no chão de pedra. Ela odiava a sensação, de estar acorrentada, mas havia previsto coisas piores do que uma corrente. Suas mãos estavam livres, o que a irritou. Que idiotas prepotentes, a tinham em tão baixa conta que pensaram que apenas uma corrente e grades a impediriam de fugir. Um som de desgosto saiu baixo e amargo de seus lábios. O orgulho ferido.

    — Não há persuasão suficiente para mim. Você não me conhece. Eu sou resistente.

    Azriel deu um passo para perto da cela, suas sombras o acompanharam, se envolvendo atrás de si, espreitando com curiosidade o pequeno e insolente espécime feminino.

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAWhere stories live. Discover now