capítulo 05

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CAPÍTULO 5

    Asteria não pôde pensar em mais nada pelo resto do tempo em que ficou ali naquela cela, sozinha. Sua mente lhe traía ao voltar seus pensamentos para o confronto entre ela e o espião mestre da Corte Noturna.

    Como havia sido burra e imprudente tentar roubar aquele macho, mesmo que fosse apenas uma faca simples, tinha sido uma decisão horrível. Estava desesperada, é claro, mas o desespero nunca a tinha feito tomar decisões ruins antes. Todas as decisões ruins que já havia tomado em sua vida foram totalmente conscientes. 

    Ela já havia roubado itens mais preciosos do que uma faca, itens maiores e bem na frente da vítima. E tinha se saído bem, sem ser notada, sem ser pega. Ter tentado roubar uma simples faca e ter sido pega e tão fervorosamente repreendida estava fazendo algo com seu orgulho. 

    Ela fora tão facilmente dominada. Sequer havia tido tempo de pensar em um modo de escapar das garras dele antes que fosse contida. Asteria mal pensou no que estava acontecendo, e logo em seguida estava com o rosto grudado na grade gelada da cela, suas pernas e braços imobilizados por sombras que a alcançaram como fitas de seda, se envolvendo em seus contornos com um aperto forte e firme. Levando-a para perto dele. A fêmea sentiu um arrepio com o simples pensamento disso. A sensação viva em sua memória, com uma beleza cruel e secreta. 

    A facilidade com a qual ele a havia subjugado atormentava Asteria mais do que qualquer coisa. Mais até do que o fato de estar trancafiada em uma cela subterrânea sem nenhuma chance de ver alguma luz solar. A escuridão não a assustava, mas sim o que se escondia nela. Ela estava sendo vigiada, é claro. Na maior parte do tempo ela tinha a certeza de que estava sendo observada de algum canto, sentia a presença e o cheiro de um macho que não conhecia, um outro illyriano qualquer, e na outra parte do tempo ela sonhava que estava sendo espionada. 

    Asteria garantiu a si mesma que em conflitos futuros ela não se renderia prontamente quanto nas duas últimas situações. Na floresta ela havia sido dominada e capturada, e na outra noite ele e suas sombras haviam brincado com ela como se ela fosse uma maldita marionete. Asteria não suportava a ideia de ser um desafio tão simples para ele. Chegava a ser vergonhoso. 

    Ela queria ser um plano miraculoso, um mapa do tesouro que ninguém conseguiria ler, um enigma que ninguém conseguiria desvendar, uma tempestade que fazia o mar quebrar contra as rochas. Indomável. Indecifrável.

    Agora tudo o que ela parecia ser era um cachorrinho que precisava ser adestrado. Azriel deveria estar se sentindo muito orgulhoso de si mesmo, provando algum ponto naquela disputa que os dois estavam travando. Como se tivesse enfim colocado uma coleira e um freio nela. Macho insuportável e desprezível.

    A visão dele sorrindo, menosprezando-a e se vangloriando do que dissera sobre ela antes, que era inexperiente e despreparada, surgiu em sua mente. A imagem hipotética foi como se enfiassem um dedo em uma ferida e então girassem com toda a força. 

    — Você é diferente do que eu imaginei que seria quando meu irmão me reportou que tínhamos uma prisioneira aqui.

    Asteria não se assustou com o som da voz, havia sentido o cheiro de um segundo macho se aproximando, tinha ouvido seus passos nada discretos, as botas fazendo um som oco no chão de pedra. Ele não estava disfarçando ou escondendo sua presença como Azriel havia feito, ele estava deixando claro que estava ali. Asteria virou a cabeça para o lado, de onde estava deitada no colchão de palha. 

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora