corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSA

capítulo 10

CAPÍTULO 10

    Azriel a viu antes que visse qualquer outra coisa na sala. E então, sentiu seu cheiro. O cheiro de seu sangue, fresco e pungente se derramando do antigo corte em sua barriga, agora com os pontos arrebentados, manchando sua camisa esfarrapada e tornando-a rubra conforme seu sangue escurecia.

    Ele nunca havia visto Asteria em uma situação parecida. O macho mal conseguia olhar para ela sem sentir um incomodo profundo em seu próprio corpo, quase como se o corpo dela fosse um reflexo do corpo dele. Azriel se empertigou. Seus olhos âmbar nunca se afastando dela, o corpo pequeno encolhido no chão de pedra. Os grunhidos de dor ecoando nos ouvidos dele, os sons de agonia enquanto ela lutava para se levantar.

    Mesmo machucada, depois de passar pelas mãos ardilosas de Devlon, ela ainda parecia ter forças, ou reunir forças de seu âmago para se manter firme e acordada, ou o mais próximo de desperta que ela conseguia, pois ela parecia confusa, alheia a tudo ao seu redor, consequência da surra que tinha levado. Asteria estava próxima de ser levada a inconsciência. Mas pelo que ele podia ver ela não resistiria por muito mais tempo. Asteria não olhou para ele, ou sequer pareceu notar sua presença, ou ao menos era isso que ele pensava enquanto olhava intensamente para ela.

    Azriel respirou profundamente. O responsável pela situação atual da fêmea estava ali, parado em sua frente, no meio do corredor. A única coisa que o separava de Asteria, o único empecilho em seu caminho era o macho alto e arrogante, que o encarava com certo tom de desafio. Devlon era velho, e tinha autoridade no acampamento, Azriel sabia o que enfrentá-lo em uma luta poderia significar, ele também sabia que Devlon não teria chances contra ele, seria destroçado em uma batalha sangrenta que não deixaria dúvidas sobre quem era o mais forte.

    O encantador de sombras estava dividido entre atacar o outro macho, e acabar com ele ali mesmo naquela cela subterrânea, e evitar problemas maiores com as comunidades de Illyria no futuro, uma batalha com Devlon poderia causar retaliações, haviam guerreiros que o seguiam fielmente, e desafiá-lo significava desafiar todos os outros. Além disso, Rhysand não aprovaria. E Azriel não saberia explicar o motivo pelo qual perdera a razão.

    Como ele seria capaz de dizer aos outros que lutara com Devlon para proteger a honra de uma prisioneira? Ele não sabia. E não entendia porque estava tão furioso, porque queria tanto descontar sua raiva em Devlon, seus olhos estavam ardendo em um brilho âmbar, como se chamas o consumissem por dentro enquanto ele percebia e assistia Asteria em seu pior estado.

    O que mais lhe causava confusão era que seu desejo de ir até ela e conferir seu estado era mais forte do que seu ódio por Devlon, Azriel queria se vingar pelo que ele tinha feito a fêmea, mas seu senso de cuidado para com ela era mais forte. As sombras dele estavam mais negras do que nunca, se agitando e se enrolando em volta dele. Afiadas como suas adagas, suas sombras sentiam seu ódio, mas também sentiam a presença de Asteria, e, assim como todas as vezes que ele estava próximo a ela, suas sombras reagiam. Agora era como se quisessem alcançá-la. Verificá-la e envolvê-la em torno de si, tornar-se parte dela.

    Mas primeiro, por mais que ele se sentisse compelido a apenas deixar Devlon ali e ir até Asteria, o mestre espião precisava lidar com o macho. Asteria resistiria firmemente enquanto ele fazia o que precisava fazer. Ela era uma soldado com um coração de gelo. Uma guerreira quando lutava. Uma deusa quando ela sorria, ele se lembrou. Do sorriso dela, mesmo que na maioria das vezes fosse um sorriso provocador, um sorriso de escárnio ou um sorriso com ódio delineando cada curva de seus lábios. Reis cairiam durante as eras por um sorriso como aquele. Um sorriso feito para destruir mundos e reconstruí-los. Um sorriso pelo qual ele morreria, ele percebeu em uma realização que fez algo em seu peito brilhar com assombro.