capítulo 16

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CAPÍTULO 16

    Asteria estava tensa. Azriel havia voltado para o acampamento, ela havia ouvido seu bater de asas perto da tenda mais cedo naquele dia, e havia sentido e ouvido os sussurros de suas sombras. Ela esperava que tivesse fingido suficientemente bem para fazê-lo acreditar que ela ainda estava dormindo. Ela havia sentido seu cheiro quando ele entrou para conferir se ela ainda estava acordada poucas horas depois, e não ficou surpresa quando ele disse a ela para se vestir.

    A fêmea fez o que ele instruiu, vestiu suas roupas e calçou suas botas, deixou sua capa de lado e hábil e discretamente enfiou sob a manga de sua jaqueta a adaga que havia surrupiado noites antes daquele dia, quando Azriel e ela tinham se beijado naquela mesma cama na qual ela  se sentava agora para amarrar os cadarços de sua bota e prender os cabelos escuros em uma longa trança.

    Ela notou Azriel voltar para a tenda depois que ela já estava decentemente vestida, e percebeu que ele parecia tão tenso quanto ela. 

    — Está com medo que eu acabe causando problemas com seu Grão Senhor? — ela perguntou, sua voz em um tom calmo que não revelava como ela se sentia por dentro. Ela escondeu sua aflição, hábil e discretamente, assim como escondia suas adagas sob a manga — Ou que eu não seja controlada e passiva como você espera e deseja que eu seja?

    Azriel, apesar de estar com o olhar distante, ficou imperturbável ao ouvir a voz de Asteria, seus músculos tão rígidos quanto seu olhar severo. Suas asas farfalharam atrás de si, suas sombras o acompanhando, girando em um frenesi de espirais enquanto ele se aproximava dela. Asteria então viu as algemas, e respirou profundamente. É claro, algemas. Como ela pôde se esquecer delas? O illyriano com certeza não havia esquecido, assim como as outras dezenas de pessoas naquele acampamento também não haviam esquecido o que ela era e que estava ali no meio deles. 

    Azriel finalmente ergueu seus olhos para olhar para a bruxa.

    — Mais problemas do que você já causou para mim? Isso seria impossível — ele disse. Uma risada sombria saiu dos lábios dele, e as borboletas em seu estômago ficaram loucas.

    — Não me subestime, Azriel — Asteria respondeu com um sorriso de lado. Ela inclinou a cabeça para o lado quando o macho se assomou à sua frente, e estendeu os dois punhos lado a lado para frente, para ele e em direção às algemas que ele segurava.

    — Eu já disse — iniciou ele, fazendo o possível para não encostar na pele quente das mãos dela quando começou a prender os dois pulsos dela nas algemas. Havia um encantamento nos grilhões de ferro, Asteria o sentiu em sua pele no mesmo instante que o ferro a tocou, como um chiado, mas não a feriu, ainda assim ela se sentiu pesada. Provavelmente estava a deixando enfraquecida, segurando e inibindo seus poderes, a bruxa rangeu os dentes. Azriel não parecia mais feliz que ela com aquela situação, mas aquilo a fez lembrar de seu ódio e sua raiva — Eu só quero que você controle seu temperamento, ouça o que temos a dizer e nos diga aquilo que quisermos saber. Não é difícil.

    — Para você, para vocês todos, pode parecer fácil — ela disse, os olhos violeta queimando nas algemas quando ele finalmente terminou de acorrentá-la, Asteria ergueu os punhos até o alcance de seus olhos e flexionou os dedos, os grilhões pareciam cantar como um diapasão e vibrar com o atrito do ferro e a pele dela. Seus cachos escuros e rebeldes emolduravam seus penetrantes olhos roxos brilhantes enquanto ela traçava a linha da palma da mão na sala. A bruxa sorriu, cinicamente — Bom, pelo menos não vai me puxar por aí por uma corrente como se eu fosse uma cadela.

    Azriel encarou os olhos dela, e encontrou púrpura ardente encarando de volta.

    — Eu não faria isso com você — disse ele — Não sei como ainda pode pensar que eu faria. 

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAWhere stories live. Discover now