capítulo 09

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CAPÍTULO 9

    Azriel não mataria a criatura. Asteria tinha certeza disso. Ao menos não por enquanto. Não enquanto Asteria não decidisse finalmente dizer tudo a ele. Sobre a praga que havia surgido pouco mais de cinquenta anos antes. Sobre as mortes, sobre o medo, a destruição que assolava a Cidade Escavada. 

    Desde que havia sido capturada, ela pensou sobre a possibilidade de simplesmente dizer que a Corte dos Pesadelos estava condenada, e que agora aquele caos poderia se espalhar por toda Prythian, a criatura morta e queimada na floresta e o illyriano em processo de transformação ali, nas montanhas do acampamento de Illyria, era um indicador forte o suficiente de que a praga poderia migrar de ambiente, era apenas questão de tempo. 

    Mas o que significava dizer a eles? Ela havia lutado em um regimento por anos a fio, viu vilarejos inteiros serem massacrados, se ela fosse menos egoísta e rancorosa poderia apenas dizer a eles sobre a ameaça. Mas Asteria Thorin não era um exemplo de altruísmo. Ela sentia raiva. Ela viu a morte de perto, encarou o que tinha certeza estar na lista do que deveria ser a pior espécie de pesadelo. A compaixão tinha sido negada a ela. A cidade onde cresceu não recebia nada. Enquanto Velaris e seu povo ficavam com tudo. 

     O grão senhor nem mesmo se responsabilizava por eles, por aquele povo que não parecia nem mesmo fazer parte de sua Corte. Era dessa forma há séculos, desde antes de Rhysand assumir o poder. Nada mudava. Nunca. E Asteria se ressentia tremendamente. Um rancor tão profundo que selava sua língua. Não havia nenhuma misericórdia nela.

    Que descobrissem sozinhos. Que lidassem com aqueles monstros sozinhos. Asteria não tinha nada a ver com aquilo. — Não era seu povo, ela pensava, meus semelhantes, inocentes na cidade escavada, tem sido mortos por demônios durante cinquenta anos, e mesmo após a guerra, mesmo após ser libertado das mãos de Amarantha em sob a montanha, o Grão Senhor não havia feito nada por nós. Em vez disso, eles estavam nas mãos de Keir e os comerciantes do porto da cidade. 

    Asteria guardava todo esse ressentimento dentro de si. Keir, que era o administrador da Cidade Escavada, também não havia dito nada a Rhysand sobre o problema que vinham enfrentando, então porque ela deveria? Ser capturada e torturada não a faria falar nada. Se eles quisessem descobrir mais sobre aquela ameaça, que descobrissem por seus próprios meios e esforços, nada sairia da boca dela. 

    Ela achava que agora que eles já tinham alguma informação e um Valen capturado talvez desistissem dela, o que daria uma brecha para fuga. Era apenas questão de tempo até que Azriel fosse em missão para a Corte dos Pesadelos e conseguisse informações sobre a praga. Por isso, Asteria ainda não entendia porque ele insistia tanto em obter essa informação através dela. Que perda de tempo. 

    De volta à cela, Asteria não se preocupou em pensar muito a respeito de Verena e o Cove. As duas nunca haviam sido muito próximas, e a relação delas havia ficado ainda mais tensa e estreita após a descoberta de Asteria de que seu irmão Kieran e Verena tinham… algo. Não foi uma relação secreta por muito tempo. Asteria ouvia e sentia o cheiro deles entrelaçado um no outro. Isso lhe causava um pouco de náusea, mas ela nunca tocou no assunto com o irmão, exceto por uma vez na qual Kieran tentou explicar, e Asteria lhe disse que fizesse o que quisesse com a própria vida. 

    Não com aspereza, ela apenas não se importava com quem ele levava para a cama desde que estivesse feliz. Se estivesse feliz com Verena, ela não ligava. E agora não importava, Asteria não sabia porque esses pensamentos sobre o irmão continuavam a voltar e lhe atormentar. 

    Asteria ofegou, deitada no colchão de palha de sua cela. Sua mão pairando no estômago, sua pele estava um pouco quente demais, ela podia sentir sem sequer tocar. Não era febre, não ainda, mas o corte latejava, e sua cabeça parecia estar girando mesmo que ela estivesse parada. Os seus pensamentos se distanciaram do presente, e a dor latente levou sua memória para dias antes de ela apagar completamente. 

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAOnde histórias criam vida. Descubra agora