capítulo 02

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CAPÍTULO 2

    Asteria não percebeu a passagem do tempo conforme ela prosseguiu com sua viagem. Ao chegar em seu destino, ela sabia que tinha cavalgado por cerca de uma semana e meia, mas o tempo parecia estranho para ela. Foi tudo monótono demais.

    Ela havia saído da Cidade Escavada na manhã seguinte a sua conversa com Verena, tinha arrumado sua bagagem, com mais comida e armas do que qualquer outro item. Precisava estar preparada caso se deparasse com algum obstáculo durante o percurso até Illyria, sua aljava estava cheia de flechas com ponta inflamável e flechas comuns, além de uma porção de facas e uma espada que pertenceu a Kieran e que ela furtivamente removeu do antigo quarto dele antes que a auto declarada nova líder do Cove tomasse posse disso também.

    Asteria tinha reunido todos os pertences importantes do irmão e guardado em um esconderijo que sabia ser seguro, ninguém nunca procuraria naquele local, portanto ela não estava preocupada com a possibilidade de que alguém xeretasse.

    A fêmea tinha guardado tudo, menos uma corrente com um pingente de cristal azul que Asteria sempre o vira usar mas nunca havia perguntado se pertencera a alguém que ele conhecera e fora dado a ele antes ou se ele havia roubado de algum idiota descuidado. Não fazia diferença, agora pertencia a ela.

    Não houveram contratempos durante a viagem, o que a surpreendeu e intrigou profundamente, pois havia pensado que alguém a seguiria. Afinal, ela estava escapando da Corte dos Pesadelos, com certeza existiam prisões com gente menos cruel e punições mais brandas do que estar condenado para sempre a lutar e resistir para sobreviver. Mesmo antes da praga aparecer, aquele lugar já era ruim o bastante, a sensação que Asteria tinha era que todos ali estavam continuamente sendo castigados. Crueldade, miséria, insensibilidade, a praga... O que viria em seguida?

    Por quanto sofrimento aquela gente deveria passar antes que os governantes fizessem algo por eles? Desde que tiveram notícias de que a guerra tinha acabado nem o Grão Senhor ou Grã Senhora haviam feito uma aparição na Corte, e não parecia que eles mobilizariam tropas para se juntar a algum regimento de Dravens e impedir que a praga avançasse para onde a população realmente estava concentrada.

    Às vezes, era como se nenhum deles sequer soubesse o que acontecia naquelas montanhas. Quantos pequenos vilarejos tinham sido varridos do mapa, quantos esquadrões de Dravens tinham ido para uma batalha e nenhum soldado havia voltado para reportar aos superiores, postos de observação atacados no meio da noite e tudo o que restavam eram corpos dilacerados, apenas cascas pois já não continham sangue em suas veias. E nenhum representante do Grão Senhor viera averiguar, ou prestar condolências às centenas de mortos.

    Asteria não tinha presenciado os horrores da guerra que eclodiu fora da cidade entre as sete cortes de Prythian e o Rei de Hybern, tinha sido brutal, ela soubera, muitos mortos, muitas perdas, uma paz frágil tinha se estabelecido depois que os exércitos esmagaram o inimigo, e todos estavam, provavelmente tentando se restabelecer das baixas obtidas na batalha. Mas a Corte dos Pesadelos estava ali... enviando seu pessoal para proteger os seus semelhantes, o que quer que fosse aquela união entre eles se restringia a isso.

    Os regimentos com os mais fortes e inteligentes lutadores, guerreiros e atiradores surgiram de um esforço conjunto daqueles dispostos a não permitir que a Corte dos Pesadelos sucumbisse a devastação completa, os comerciantes mais ricos, os assassinos mais perigosos, da terra e do mar, recrutaram os idiotas mais destemidos e formaram esquadrões de soldados que foram chamados de Dravens, os caçadores, determinados a se arriscarem perante uma nova e desconhecida ameaça.

    Asteria sempre pensou que o que os fez ficarem tão disciplinados e determinados a lutarem foi a perspectiva de não terem mais pelo que lutar. Se todos morressem não sobraria nada, a Cidade Escavada se tornaria uma lenda contada por aqueles que nunca haviam de fato presenciado aquela realidade. Eles tinham tudo e nada a perder, por isso lutavam. Se tornaram mais organizados com o passar do tempo, os veteranos das batalhas já usavam suas experiências para orientar os recrutas mais recentes a como proceder em batalha.

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAWhere stories live. Discover now