capítulo 08

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CAPÍTULO 8

    A fêmea oscilava entre semi consciência e um estado profundo de confusão, pelo qual ela serpenteava, indo e voltando, lutando para abrir as pálpebras e distinguir o que era realidade e o que eram apenas alucinações. 

    Sua mente permeou por sonhos que pareciam memórias reais, mas muito distantes, muito difíceis de serem alcançados. Eram lembranças pouco distinguíveis, escorregadias, as quais Asteria não conseguia se agarrar e ver com clareza. 

    Ao mesmo tempo ela sentia dor. Uma dor pungente, a parte de trás tinha batido em uma pedra, ou uma árvore, ela não sabia, não se lembrava, quando o Valen se cansara de brincar com a sua refeição e dera seu golpe final, arremessá-la com toda a força contra uma superfície rígida. Ela pensou que o osso de seu crânio tinha se partido com o impacto, poderia ter uma concussão, e ela sentia o couro cabeludo úmido, o que era, provavelmente, seu sangue.

    Sua mão tentou tocar em sua barriga, onde uma dor lancinante pulsava, ela sentia como se seu coração batesse ali, naquele mesmo local onde o Valen houvera lhe esfaqueado, e como se o órgão fosse de repente ser arrancado. Ela, de repente sentiu um formigamento incomum se espalhar por sua barriga, seus braços pinicavam como se alguma erva venenosa tivesse sido esfregada em sua pele. 

    "— Estou sonhando? Asteria pensou. Estou morta? Ou ainda agonizando enquanto a criatura me devora?"

    Ela não conseguia distinguir a situação na qual estava. Se tinha mesmo sido carregada por um anjo da morte ou se aquilo fora outra ilusão, outra peça que sua mente lhe pregou para distraí-la da angústia que seria sua morte. Mas se havia morrido, porque ainda sentia dor? Porque ainda sentia como se sua vida estivesse sendo arrancada se ela já tinha feito sua passagem?

    A dor aumentou, aguda como uma picada de abelha. Asteria sentiu sua garganta arder, e um grito alto de pura agonia se construir em sua voz, estava rouca como se viesse gritando continuamente. A fêmea se agarrou a algo, e apertou com força, talvez com a esperança de que o que quer que estivesse segurando a mantivesse nesse plano, puxasse sua vida de volta para a terra. 

    Uma ardência queimou em seu corpo, e ela sentiu que tinha gritado outra vez, mesmo que não conseguisse ouvir a própria voz, apenas um eco estrépito. Culpa da concussão, talvez. Seu ouvido parecia tapado, um estampido soando, da mesma forma quando a água entupia o orifício auditivo. Talvez seja o meu sangue, foi o pensamento dela. Mas o ardor e a picada de dor aguda se intensificaram, causando a abertura súbita de seus olhos. 

    Ela se sentiu em órbita, seus olhos lacrimejaram e ela piscou. As pupilas provavelmente dilatadas, se acostumando com a luz fraca do lugar onde estava. Asteria sibilou de dor quando tentou se mover, ela encarou o teto do que parecia ser uma tenda, estranhando o ambiente. 

    — Asteria? — ela ouviu o seu nome ser chamado, o sotaque estrangeiro prolongando o S como um chiado, um sopro, um assobio suave. O som, ashh, reverberou em seu ouvido, em sua mente. Ash-te-ri-uh. A fêmea franziu a testa com o som, a pronúncia correta seria com um som de Z no início, como um zumbido, como Azriel, e com um A aberto no final — Está consciente?

    Consciente… Ela nem conseguia distinguir se estava viva ou morta, e ouvia o eco de uma voz perguntando se ela estava consciente. O teto entrou em foco no seu olhar, e uma fisgada de dor a fez ofegar e baixar o olhar. Ela piscou uma, duas vezes, seu olhar se focou em uma figura curvada sobre seu corpo, as mãos se movendo. Asteria viu mãos hábeis, cobertas de cicatrizes intrincadas, trabalhando com destreza no corte em sua barriga, inserindo uma agulha prateada em sua pele, e unindo as duas partes da carne com uma linha escura, arrematando com nós delicados.

corte de sombras e pesadelos • azriel × asteria | EM PAUSAWhere stories live. Discover now