Capítulo I

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(Lucas)

"O amor às vezes machuca,

Às vezes te deixa fraco,Como uma queda livre,Entre o céu e o chão.

Nem tudo são flores,

Nem todo dia é azul,Então vou fechar os olhos,E refletir no ontem.

Porque não há vida no vazio,

Sem sentir verdade, não vivemos,Não há vida no mundo,Porque o mundo é amor e o amor é vazio ".


Essa era minha poesia que escrevi como trabalho da minha faculdade. Os versos refletiam meus sentimentos que eram vazios como o vácuo do espaço. A única coisa da qual minha vida era abundante, era de decepções.

— Muito bem Lucas, oito e meio, próximo. — Disse o professor.

Já era meu segundo ano na universidade, e sinceramente isso foi outra decepção. Quando eu estudava na minha antiga cidade, sonhava alto no meu futuro, achava que iria ficar rico rápido com minha arte, achava que seriam festas, e essas coisas que todo adolescente de cidade pequena sonha.

— E esses versos? Foram um desabafo? — Joana perguntou, minha melhor amiga, ela era a única coisa agradável naquela maldita cidade.

— Talvez seja um pedido de socorro. — Respondi.

— Balada depois daqui? — Perguntou, e eu, é claro, demonstrei um pouco de ânimo.

— Óbvio. — Sorri.

O espírito da meia-noite, esse era eu, um ser obscuro com os cabelos de contos de fada.

— E o Jonas? —. Joana perguntou apontando para ele, do outro lado da sala.

— Por que você fica revirando tanto o passado? — Digo ficando com raiva. Jonas era meu ex, nosso término não havia sido nada amigável.

— Ele ainda gosta de você Lu, ele se arrependeu do quê fez. — Joana tentou me convencer.

— E eu não gosto dele, não mais. E nem sei porque gostei, ele se veste mal; tem mal hálito; e ainda por cima fede. — Falei o encarando, Jonas tentou um sorriso, mas eu levantei meu dedo do meio em resposta.

— Você não reclamava quando Namoravam. — Infelizmente me lembrou desse fato lamentável. 

— Porque eu era idiota. — Não me julguem, o otário do Jonas me traía todo dia, e não era com apenas uma pessoa, mas com um bando de vadias e vagabundos. Fiquei até com medo de contrair uma doença.

— Vamos! Hoje nós vamos conhecer uns boys. — Joana me puxou, quando a aula terminou.

— Só espero que ele seja rico, e não seja um enrustido. — Falei.

Joana guardou nossas coisas no seu armário, e fomos a farra. Morávamos em um cidade bem grande, e ainda mais violenta, e não era muito seguro sair a noite, mas...

— Eu estou bonita? — Joana perguntou.

— Você é sempre linda amor. — Joana tinha o cabelos pretos com as pontas pintadas de azuis.

— Você que é lindo. — Ela disse e segurou meu queixo, para dar um beijinho na minha bochecha.

Eu me considerava bonito, tinha os cabelos coloridos, originalmente loiros. Meus olhos são azuis, uso um piercing no nariz. Meu corpo não é muito atraente, minha pele tem um monte de sardas. Desde que o Jonas me traiu, acabei desistindo dessa história de relacionamentos, eu era melhor sozinho.

Íamos a pé até ao clube, era um pouco perto para os padrões da cidade.

(Danilo)

— Um copo de café por favor! — Peço ao atendente. Eu precisava de cafeína, para poder ficar acordado durante toda a noite.

"— Confusão no Bairro-Novo, briga de bar. —" O rádio tocou. A cada dia eu me afundava mais no trabalho, não tendo tempo nem para mim mesmo. Na verdade eu queria era esquecer minha vida. Sete anos no exército, e nunca houve uma situação tão desgastante, como as que eu tenho que resolver todos os dias. Eu gosto e não gosto da minha profissão, se por um lado eu protejo os vulneráveis, eu também fico vulnerável psicologicamente.

— Aqui senhor —. Obrigado, digo entregando uma nota de cinco.

— Obrigado —. Falei, e dei partida na viatura, hoje minha obrigação era fazer ronda.

Eu já tinha 32 anos, mas ainda sonhava na possibilidade de ser feliz, mesmo com toda dureza na minha vida.

Eu não tenho filhos, não tenho irmãos, nem pai, nem mãe. Esses últimos me deixaram, quando eu estava começando no exército. Minha mãe morreu de derrame jovem, e meu pai morreu uma semana depois de tristeza.

Mas isso já faz mais de dez anos. Então devo seguir em frente, mesmo sozinho. A única coisa que eu possuo é um apartamento médio, onde vivo completamente desorganizado, indo pra casa apenas para comer ou dormir.

Enfim minha vida é muito complicada, e talvez eu goste de toda essa complicação. Se é que isso pode ser chamado de vida.

(Lucas)

— Isso daqui está cheio. — Joana fala animada. E realmente estava, muita gente dançando e se pegando, alguns sem camisa, seios balançavam de fora, acho que se meus pais soubessem que frequento aquele tipo de lugar eles viriam me buscar pessoalmente, com um terço na mão e um cinto na outra.

— Boa sorte pra você. — Acho que minha amiga estava mesmo doida para ficar com alguém.

— Oi, quer dançar? — Chegou um daqueles caras bombados, que saíram da adolescência, mas continuam fedendo à mijo. Ainda bem que chamou a Joana e não a mim. Pior que ele era até que bonitinho.

— Quero! Amor, você não se importa não é?! — Ela perguntou a mim. Ah Joana você é muito tonta mesmo, não podia ver um cara bombado que ficava toda burra.

— Divirta-se. — Fingi não me incomodar com o fato de ela me deixar sozinho enquanto vai dançar com o seu bombado. Depois que os dois se foram falei por alto:

— Tomara que tenha o negócio pequeno. —

Já sozinho no meio da pista de dança decidi ir até o bar beber alguma coisa, e pelo menos ficar vendo os músculos do barman.

— Me dê sua bebida com menos álcool por favor! — Fiz meu pedido e me sentei em um banco apoiando meu corpo sob o balcão do bar. Fiquei admirando o barman, ele era até que bonitinho, mas tinha cara de tonto.

— É fraco pra álcool? — Perguntou enchendo o meu copo.

— Sou fraco pra homem! — Flertei, tomando tudo de um só gole. Eu sabia provocar alguém quando eu queria, mesmo que isso me causasse arrependimentos posteriormente.

— Você curte caras? — Como eu disse ele era mesmo tonto, afinal ainda não havia percebido o quão homossexual eu era, o que não era pouco.

— Eu sou gay meu bem, não pareço? — Ri, ele sorri também.

— Na verdade não. Mas sabe, eu também curto caras, mas só na brotheragem, sabe? — Nesse momento perdi todo o meu interesse, concluí que ele era só mais um daqueles bissexuais retardado, que não sabe o que são, gostam de homens, mas acham que são héteros. Ou seja, são burros.

— Sei! — Não dei muita atenção.

— Então depois daqui você não quer sair comigo? Pra um motel talvez, mas tudo no sigilo. —

— Não, não quero. Você é bonitinho, mas não sabe o que quer, e eu sou bem grandinho pra cair nessa. —

Depois de minha fala, saí do bar, ainda procurei pela Joana, mas ela estava trocando beijos com o bombado.

Na real, eu nem estava com vontade mesmo de vir a essa festa. Então é melhor eu voltar pra casa. Caminhei pra fora e no escuro fui rumo a minha casa, ela era longe, e o caminho era muito perigoso. Mas, eu só queria ter uma noite de sono.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

Fardado [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora