Fardado [+18]

Capítulo XLIX

                      (Lucas)

   — Você me deixou sozinho, eu te amo tanto. Por que teve de ir? Não poderia ter ficado? —.

   — Trouxe a flor mais bela que encontrei, esse túmulo está tão triste. O pior de tudo, é que você escolheu um belo dia para me deixar, olha é outono, as folhas estão caindo, tudo vai mudar. Queria poder atravessar todas as estações com você —.

   — Nem tenho mais lágrimas, já gastei todas, meus olhos queimam. Meu coração se resume a uma esponja maltrapilha que está prestes a se ruir —.

   — Foi difícil ver você sendo homenageado, vieram tantas pessoas, meus amigos, e os poucos que você tinha —.

   — Você me disse para seguir em frente, mas não faço a mínima ideia de como. Seria tão mais fácil com você ao meu lado, me guiando —.

   — É tanta dor que eu sinto, já pensei em enfiar uma faca afiada no meu peito, e sangrar até a morte. Somente para fazer companhia. Mas sou tão covarde que não consigo —.

   — Eu só queria que você estivesse aqui comigo, me beijando, me possuindo, sendo apenas meu e eu seu —.

   — Me desculpa, mas não vou abrir mais meu coração, ele morreu junto com você. Nunca vou poder amar de novo, com todas aquelas belas lembranças que foram manchadas pelo seu sangue —.

   — Em todos os lugares que olho, vejo alguma coisa que me lembra você. Minha mãe disse que é coisa da minha cabeça, disse que foi devido ao choque de tudo o que aconteceu. Mas no fundo, eu sei que você sempre estará comigo. Como um anjo da guarda, como o meu eterno protetor —.

   — O engraçado é que tivemos tão pouco tempo, foram poucos meses, mas foram tão felizes. Você cuidando de mim, matando minha enorme carência. Me dando a coisa que eu mais necessitava, amor —.

   — Quando estive sobre seus braços, me senti completo, como se possuísse tudo, porém te desejando cada vez mais, cada dia a mais. Como um vício —.

   — Sabe eu havia escrito uma poesia sobre nós dois um tempo atrás, antes do turbilhão inteiro. Vou ler meu amor —.

  — As páginas de um romance antigo,
Cheias de amor e de um pouco de ódio,
Rostos bonitos não são mais que um perigo,
Dentro do mesmo livro enrolado.
Somos dois perdidos, achados,
Que pelo destino se e contratam,
Nossos corações agora entrelaçados,
E nenhum amor assim relatam.
Eu estava perdido,
E continuo estando,
Sem você comigo,
Fraco vou ficando.
Talvez amanhã você volte,
E traga alegria de volta,
Eu queria ter mais sorte,
E ter você de volta
Já viu o Sol através dos meus olhos?
Viu o brilho deles para ti?
Consegue amar por mim?
Pois é eu consigo...

Já sonhou comigo?
Estive com você enquanto dormia?
Consegue sonhar em mim?
Pois é eu sonho...

Você é meu distúrbio,
Minha única razão de ser,
Embora seja contrário,
Eu só posso dizer me ame,
Já me soprou palavras?
Em que pude rir?
Ou até mesmo chorar?
Eu soprei e ainda sopro...
Parece que sou destinado
A sentir seu espírito em mim
De querer o teu calor
Escrever para não esquecer
De tudo que eu deveria ter dito.

  — Eu queria ter escrito mais, você merecia muito mais, mas infelizmente não tive essa oportunidade —.

  — Sabe no que fico pensando? Será que não mereço ser feliz? Será que fiz algo de errado? Isso será punição por uma outra vida? Eu não acredito nesse negócio de reencarnação, mas ao que parece estou punido a ser infeliz —.

  — Bem, a noite já está caindo, o cemitério já vai fechar, queria ficar aqui com você, melhor queria ter você longe daqui comigo —.

  — Só quero dizer que te amo, e que nunca vou te esquecer, nunca mesmo. Esteja onde estiver tenha em mente que estarei pensando em você, adeus meu grande e único amor —. Com essas palavras choro.

   — Eu odeio te ver chorando —. Danilo secou minhas lágrimas, e em seguida pegou o livro de minhas mãos e o fechou. Estávamos deitado em nossa rede na varanda, contemplando a bela vista da serra a nossa frente.

  — Foi bonito esse não acha? —. Haviam se passado três anos desde aquele dia terrível.

   — Foi —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

O PRÓXIMO CAPÍTULO SERÁ O ÚLTIMO, UM RESUMÃO, SEGUNDA-FEIRA, NÃO PERCAM.