Capítulo XLVIII

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                        (Danilo)

  Era tão gelada, a mão do Lucas, tão diferente das lágrimas quentes que caíam sobre meu abdômen. Eu estava no chão, com o corpo dilacerado, sentindo aquela imensa dor. Minhas forças sumiam, bem devagar, enquanto o meu sangue banhava aquele chão imundo.

   — Eu odeio te ver chorando —. Digo ao tocar aquele rostinho perfeito, eu tinha conseguido, salvei meu amor, ele só estava um pouquinho machucado, com alguns arranhões. Acho que posso partir feliz, pelo menos ele vai ter uma longa vida.

   — Aguenta por favor, eu não consigo viver sem você —. Lucas cai aos prantos. Seco suas lágrimas, olho para o céu, não havia uma nuvem sequer, era um imenso azul acima de minha cabeça. Acho que aquele lugar me chamava.

   — Lucas, por favor me perdoa, por tudo o que eu te disse —. Eu precisava de seu perdão, ouvir que ele me ama era necessário, não partiria em paz sem aquelas palavras.

   — Não pede meu perdão, você vai sair daqui, nós vamos sair daqui, juntos —. Ele aperta minha mão e olha para Figueredo.

   — Cadê essa ambulância? —.

   — Eu não sei, está a caminho —. Era tão bonito a sua inocência, a sua pureza, achar que poderia me salvar, mas pensando bem, ele me salvou da escuridão da minha própria alma, me tirou do meu estado de depressão e me deu o momento mais feliz de minha longa e infeliz vida.

   — Eu fui tão estúpido com você, sei que merecia ouvir aquelas palavras. Mas você me chamou de egoísta, quero te dizer que sempre pensei em nós dois, principalmente em você, por isso que salvei sua vida, não por mim, por você —.

   — Danilo não faz isso, por favor, fica comigo, eu te amo, eu te perdôo meu amor, fica comigo —. Lucas soluçava, não vou dizer que estava contente com aquela situação, preferia continuar vivo, viver mais anos aos seu lado, e cumprir todos os nossos sonhos.

   — Eu também te amo, sabe, acho que naquela noite, depois da festa, foi amor a primeira vista. Eu há sabia quê você seria a coisa mais importante da minha vida —.

   — Quando você se recuperar, vamos para a nossa casinha na serra —. Ele beija minha mão, e em seguida arruma o meu cabelo.

   Minha respiração estava mais fraca, eu sentia frio, sentia medo, sentia tantas coisas.

   — Eu queria muito que isso acontecesse, mas não vai meu amor. Promete que não vai chorar?! —.

   — Eu não vou chorar, porque você não vai morrer, deixa de ser teimoso —.

   — Ele está pálido, deve ter perdido muito sangue. Você é muito forte Danilo, qualquer pessoa poderia já está morto nessa situação —. Figueredo fala.

   — Lucas, eu deixei o Blanco aos seus cuidados, o apartamento é seu, faça o que preferir. Recomeçe sua vida, termine sua faculdade, faça novos planos, e conheça outras pessoas, e se porventura encontrar um alguém, seja muito feliz, só não esqueça de mim —.

   — Eu não quero mais ninguém Danilo, eu só quero você, fica comigo por favor —.

   — A Elisa nasceu, Rodolfo e Joana estão tão felizes, eles vão cuidar de você, nunca vão te deixar sozinho —.

   — Danilo, me perdoa, eu nunca quis ter dito aquelas coisas, foi tudo armado, tudo criação desse capeta. Primeiro o Jonas morreu, você não pode morrer amor, aguenta só mais um pouquinho, a ambulância já está chegando —.

   — Lucas, eu... —. Ele me interrompe com um beijo, e em seguida fica com o rosto muito próximo ao meu.

   — Olha nos meus olhos, e respira fundo. Pensa em nós, no nosso futuro juntos, nas coisas que vamos viver —.

   — Você tem um cabelo tão lindo —. Toco aquelas madeixas sedosa e coloridas, que me deixaram perdidamente apaixonado desde a primeira vez que o vi.

   — E você que é o homem mais bonito desse mundo —. Ele sorri tentando mostrar que estava tudo bem, quando na verdade não estava.

   — Você é uma preciosidade, uma raridade. Foi muita sorte ter cruzado seu caminho, e mais ainda poder te ter, mesmo que por tão pouco tempo. Um século seria pouco, um milênio menos ainda —.

   O barulho de tiros havia cessado, mais uma vez a paz reinava naquela cidade, mesmo com um custo humano elevadíssimo. Hoje era eu que estaria nessa conta, infelizmente.

   — Você vai ver, vamos ficar juntos para sempre —. Era tão belo a forma como o Lucas mentia. Eu poderia acreditar naquelas palavras se meu corpo não me dissesse o contrário.

   — Sempre sonhei nosso filho com o seu cabelo, os seus olhos, sua pele. Na verdade acho que ele deveria não ter nada meu. Apenas seu. Perfeito. Educado, leal —.

   — A ambulância já está subindo o morro —. Figueredo fala para Lucas, e ele sorri.

   — Viu amor?! Falta só mais um pouquinho, aguenta por favor —.

   Agora já era difícil respirar, as coisas começavam a ficar embaçadas.

   — Lucas, eu... — Uma tosse me atrapalha — Eu já estou indo, não vai dar tempo —.

   — Danilo não! —. Ele aperta meu braço, e põe sua cabeça sob meu peito.

   — Eu não sei aonde vou, mas espero que um dia possa te encontrar do outro lado. Por favor demore, demore muito —.

   Não sei se foi verdade, ou apenas coisa da minha cabeça, mas vi no céu o rosto dos meus pais de mãos dadas. Minha mãe com a mão estendida, e meu pai com um chapéu no peito. Era uma coisa bela de se ver. Minha visão se tornou ainda mais turva, um arrepio me subiu a espinha. Respirei fundo, já sabendo que não teria muito tempo. Eu tinha que dizer minhas últimas palavras.

   — Eu... Te... A...

CONTINUA PRÓXIMO CAPÍTULO.

  

Fardado [+18]Where stories live. Discover now