QUATRO

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Juliette Freire.

- Preciso falar com você. Em particular.

Ela ergueu uma sobrancelha. Um leve sorriso arrogante se curvou em seus lábios.

- Imagino que seja algo muito importante. Infelizmente tenho outros negócios para resolver. Escolheu um dia ruim.

- Eu espero. Não vou tomar muito do seu tempo.

Ela avaliou-me com o olhar por um momento.

- Tudo bem. - Sem mais palavras, dirigiu-se à sua sala e o homem que estava ao seu lado praticamente correu atrás dela. Depois que a porta foi fechada, respirei fundo e sentei de novo, muito trêmula. Nem olhei para a secretária, que eu sabia estar curiosa. Apertei as mãos sobre o colo, percebendo o quanto estavam geladas. Sentia-me como se tivesse acabado de sair de uma luta. Procurei me acalmar. Pelo menos ela aceitará me receber. É claro que não parecia nada feliz em me ver ali, mas eu sabia que seria assim.

A espera foi horrível e deixou-me mais tensa e ansiosa. O homem que a acompanhara saíra da sala após uns trinta minutos e agora o tempo se arrastava sem que ela me chamasse. Após mais de uma hora e meia esperando, desde que ela chegou, eu já estava uma pilha de nervos.

Sentia fome, preocupação com Bil e Cecile, sem saber se Carla estava conseguindo cuidar dos dois. Sem falar na tensão em ficar ali, sem saber como seria recebida depois de ter que me humilhar para Sarah. Se eu pudesse escolher, aquele seria o último lugar que eu gostaria de estar.

- Aceita mais um café, senhorita? - Indagou a secretária, na certa com pena da minha espera nervosa.

- Não, obrigada. - Ainda tentei forçar um sorriso.

- A senhorita Andrade precisa dar vários telefonemas importantes. Logo estará livre.

Agradeci com um sorriso, mas o "logo" durou mais uma hora. Eu quase subia pelas paredes.

Finalmente o interfone tocou e a secretária disse para mim:

- Pode entrar. Ela a aguarda.

- Obrigada.

O nervosismo agora era insuportável. Levantei-me tentando aparentar uma calma que eu estava longe de sentir e segui até a maciça porta de madeira. Meus pés e mãos estavam até dormentes, de tão gelados. Abri a porta e entrei no escritório dela.

Era imenso e magnífico. Eu não tinha condições de reparar na decoração, mas o conjunto era elegante, luxuoso e sóbrio. Toda a parede de frente era envidraçada e as persianas estavam abertas, enchendo a sala de luz.

O chão acarpetado abafou meus passos quando me aproximei da enorme mesa de madeira escura que Sarah estava, sentada em uma cadeira de espaldar alta, olhando-me diretamente.

- Sente-se. - Indicou-me a cadeira em frente e aguardou eu me acomodar e encará-la, antes de dizer: - Estou curiosa.

Resolvi não enrolar e acabar logo com aquele martírio.

- Preciso da sua ajuda.

Ela não se alterou. Seu olhar intenso me dava calafrios. O rosto anguloso, de queixo firme e traços marcantes, era frio e sério.

- Dinheiro. - Sarah falou baixo.

Não pude negar e a vergonha me envolveu. Ela esperou que eu continuasse e eu a fiz:

- Bil está doente. Esclerose múltipla. Há três anos, ele só vem piorando. Parou de andar e de mexer os braços. Apesar dos medicamentos, a doença não tem cura e está muito avançada. Ele praticamente não tem mais consciência de nada. Está imobilizado em uma cama e os médicos disseram... Talvez ele não tenha nem dois meses de vida. - Falei rapidamente, procurando ser objetiva e não deixar a emoção me dominar.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora