VINTE E OITO

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Juliette Freire.

Olhei boquiaberta para ela.

- O... O que?

- Me desculpa Juliette. É difícil para mim admitir isso, mas eu errei com você... Ultimamente só tenho errado. Eu sinto muito por ter forçado-a aquela noite. Desde aquele dia não consigo dormir direito, só consigo pensar nisso, de como fui um monstro com você.

Seus olhos transmitiam tristeza e arrependimento ao pronunciar tais palavras.

- Por que fez aquilo, Sarah?

- Eu não sei.

Sua voz saiu baixa e embargada.

- Quando dei por mim já tinha feito. Eu não queria ter feito aquilo Juliette, juro que não queria. Ver a sua filha aqui, nós três como uma família, mexeu comigo. Eu não sei te explicar, só sei que por um momento imaginei que tudo poderia ser meu. Era para você ser minha mulher há dez anos atrás, eu era a pessoa certa para você, eu que sempre te amei. Quando eu te via com o Bil eu só pensava que ele não era homem para você, eu sabia de tudo que ele fazia, das traições, das noites que te deixava sozinha em casa e ia se divertir e me irritava não poder contar, eu queria você para mim, queria o seu amor, sempre quis, mas você queria viver o seu sonho de princesa com aquele babaca. Isso despertava minha ira, porque ele não te merecia, nunca mereceu. Tudo era para ser diferente. Você era para ser minha, Cecile era para ser minha filha, nós poderíamos ter a nossa vida juntas, e foi nesse momento, pensando nessas coisas, sobre nosso passado, relembrando todo sofrimento que vivi vendo a mulher que eu amava me jogando para escanteio e indo para os braços de outro viver a vida que eu desejava que eu surtei.

Cada palavra que ela pronunciava sua voz parecia que sumia. Eu estava a ponto de desabar em um choro profundo com aquela revelação. Então ela continuou:

- Eu sei que uma simples desculpa não vai resolver, eu sei que deixei marcas, e que você não vai confiar em mim. Farei de tudo para lembra-la todos os dias do meu arrependimento até que me perdoe. Eu tenho esse jeito desprezível, durão, mas eu não queria ter feito aquilo com você Juliette, eu não sou esse monstro que pensa, por favor me perdoe, eu te imploro.

Senti pena, nunca a vi desse jeito, seus olhos mostravam dor ao falar. Sarah me queria em sua vida. Queria que minha filha fosse sua. Ela me queria há dez anos atrás quando eu pensava que ela me desprezava, ela me amava e seu desprezo era por não me ter ao seu lado. Sai dos meus pensamentos com ela falando:

- Hoje não deixaria ir até o final. Nunca deixaria outra pessoa te tocar. Eu só queria te contrariar, eu queria me vingar de algo que você não fez, eu sei que me precipitei em ter te levado para aquele lugar, mas eu estava com raiva, eu queria provar que você realmente era uma puta, coisa que eu sei que você não é. 

Sarah falava cada palavra olhando em meus olhos, como se aquela conversa fosse nosso juízo final.

- Eu simplesmente não consigo pensar quando você está perto de mim Juliette, eu sempre quero tocar em você, te beijar... E quando vejo já fiz e já falei. E isso me irrita muito. Me irrita saber que mesmo depois de dez anos você ainda tem esse poder sobre mim. Me irrita saber que tenho que te atingir de alguma forma. É como se eu voltasse no tempo e você pudesse sentir todas as minha dores. Mas eu cansei, cansei de tentar te atingir, cansei de tentar negar e esconder os meus sentimentos. Sabe o que mais me irrita, Juliette?

Ela parou por um momento, ainda olhando em meus olhos.

- Saber que você não é minha. Que se não fosse esse maldito contrato você não estaria aqui comigo, que está aqui por obrigação. Eu tentei fazer as coisas serem diferentes há uns tempos atrás, eu queria conquistar você do jeito certo, eu queria que você percebesse que eu era a pessoa certa pra você, mas aí eu fiquei sabendo que você estava grávida daquele moleque e então a ficha caiu... Os sentimentos que eu tinha por você nunca seriam recíprocos. Tudo que eu sentia por você, tudo que eu queria com você, você teria com o Bil. 

Ela desviou o olhar do meu e limpou com as costas das mãos uma lágrima que escorria pelo seu rosto, umedeceu os lábios e voltar a falar.

- Eu fiz a vasectomia por causa de você. Eu não aguentei saber que você daria um filho pra ele e nunca iria dar um pra mim, então a única coisa que eu pensei foi que se eu não pudesse ter um filho contigo, eu não queria ter com mais ninguém. Eu queria ter te expulsado do meu coração do mesmo jeito que eu dispensava as mulheres que dormiam na minha cama, eu realmente queria que fosse fácil te tirar da minha vida, mas infelizmente não foi e eu nunca vou conseguir fazer isso. 

- Sarah...

- Nunca quis te humilhar, mas parece que essa é a minha auto defesa, sempre que eu lembro que você poderia ter sido minha, mas preferiu o Bil... Eu não consigo me conformar. - Disse balançando a cabeça negativamente. - Eu só queria que você fosse minha. - Os olhos marejados se encontram novamente com os meus, esperando por uma resposta.

- Sarah, e-eu...

Minha voz já estava embargada. Nunca pensei que ela se abriria desse jeito, então ela continuou quando viu que não eu não ia conseguir falar.

- Hoje quando você disse que estava tudo acabado, eu fiquei sem chão, não sabia o que fazer, pela primeira vez depois de anos eu senti medo. Medo de te perder. Eu não posso te perder Juliette, não novamente, eu não posso e não vou perder, você é minha, sempre foi! Eu sou louca! Louca por você, Juliette.

Dito isso ela se aproximou sem desviar seus olhos dos meus e me beijou apaixonadamente. Fiquei sem reação. Todas as barreiras que eu havia construído naquela noite desabaram naquele momento. Ver Sarah tão entregue, falando tudo que sentia, relembrando nosso passado, me pedindo perdão, fez meu mundo desabar. Ela me queria, eu a queria e aquela conversa estava sendo esclarecedora para ambas.

Naquele mesmo momento, o celular dela começou a tocar do bar, onde ela tinha ido primeiro quando chegamos aqui. Paramos de nos beijar e então ela encostou sua testa na minha e ficou assim por uns segundos, com o celular ainda tocando. Ela deixou um beijo na minha testa e se afastou indo pegar o eletrônico. 

Continuei ali sentada no sofá, estática, tentando ainda entender tudo que aconteceu.

Minutos depois Sarah apareceu na sala trazendo consigo um copo d'água, ela me entregou e se sentou ao meu lado no sofá.

- Era a minha advogada... Ela está na delegacia. - Sarah encostou sua cabeça em meu ombro e começou a chorar baixinho.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora