VINTE E NOVE

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Juliette Freire.

- Sarah? Está tudo bem? - Perguntei enquanto fazia carinho em seus cabelos.

- Sim. - Sua voz saiu baixa, quase inaudível. Me afastei um pouco dela e a olhei nos olhos.

- O que aconteceu, Sarah? O que sua advogada queria com você há essa hora? - Com o polegar limpei a lágrima solitária que escorreu pelo seu rosto. - Me fala Sarah, eu quero te ajudar.

- A Vitória está morta.

A notícia veio como um supetão no peito. 

Como assim morta? 

- Minha advogada me ligou só para me deixar apar da situação... - Ela se calou quando o celular que ela havia me dado começou a tocar dentro de minha bolsa.

Senti o terror espalhar-se dentro de mim. Me afastei de Sarah, peguei minha bolsa e a abri rapidamente, tremendo. Eu havia deixado o número com Carla, para me ligar em caso de emergência.

Não. Meu Deus!

Implorei em pensamento, rezando para que fosse um engano. Talvez alguma mulher ligando para o número antigo de Sarah. Mas meu medo aumentou quando vi o número de telefone de Carla no visor.

- O que foi, Carla? - Falei alto, com a voz apavorada, esganiçada, agarrando o celular com força.

- Ju... - Começou ela, com pesar na voz.

- O Bil? Foi ele? Diga, pelo amor de Deus!

- Ele... É... Ele se foi, Juliette.

Eu sabia que aquilo poderia acontecer. Os médicos avisaram que era a reta final, que não havia mais jeito. Eu já vinha me preparando há um bom tempo e na verdade não suportava mais ver o sofrimento dele. Mas mesmo assim foi um choque.

Senti como se minhas entranhas se dobrassem por dentro. Minhas pernas e braços tornaram-se estranhamente dormentes e eu senti muito, muito frio. Um frio insuportável, que me fez começar a tremer incontrolavelmente. Minha visão encheu-se só de imagens dele, nos mais variados momentos de sua vida, como se um filme passasse sem ordem à minha frente.

- Ju, escute Juliette, foi melhor assim. Ele parou de sofrer.

Eu ouvia ela muito longe. Senti uma mão em meu ombro e o celular sendo retirado de minha mão. Agarrei-o com força, sem conseguir raciocinar direito, mas sabendo que era importante ficar com o celular em mãos.

- Acalma-se, Juliette. Está tudo bem.

Tentei focalizar Sarah. Cheguei a vê-la, debruçada sobre mim, senti meu ombro molhar com suas lágrimas. 

Vitória. Ela também havia partido. Eu queria poder consolar a Sarah, mas era demais para mim poder assimilar tudo de uma vez. Eu me sentia longe demais, confusa, sem conseguir pensar.

Bil estava morto.

- Dê-me o celular. Isso. Alô. Sim, ela vai ficar bem.

A voz de Sarah me fez olhá-la, tentando entender o que ela dizia.

- Estamos indo. Pode deixar. Até logo.

Ela deixou o celular no bolso e olhou-me, triste.

- Vou pegar algo para você beber e ficar mais calma.

Eu me desesperei quando ela se afastou. Quis me levantar, mas minhas pernas não responderam.

Aquela fraqueza horrível!

Eu precisava voltar para a casa. Mas parecia completamente fora de mim.

- Aqui, beba um pouco. Vamos Ju. - Sarah tocou meu rosto. Olhei-a, pedindo ajuda, sem conseguir falar. - Beba.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora