DEZESSEIS

3.6K 279 320
                                    

Juliette Freire.

Quando conheceu o Evandro Andrade, Ana tinha trinta e sete anos, mas parecia não ter nem trinta. Continuava linda, bem cuidada, parecendo mais uma irmã do que mãe de Bil, com quase vinte anos na época.

Ela era secretária do pai de Sarah e não demorou muito para que o homem de mais de quarenta anos de idade ficasse louco por ela. Não sei bem os detalhes, só de que ele cortejou-a um bom tempo, mimando-a até conseguir conquistá-la. Casaram-se em pouco tempo. Ele era completamente fascinado por ela.

Depois que minha mãe morreu, eu fiquei sozinha aos dezessete anos e sob a guarda de Ana. Havia perdido meu pai quando criança. Fui morar com ela, seu marido, Bil e Sarah na mansão do empresário. O que me lembro é de Sarah sempre com raiva e do ódio que eu tinha dela por nos maltratar e por fazer acusações contra a mãe de Bil. Eu nunca soube que Ana pudesse tentar seduzir Sarah.

Na época Sarah tinha vinte e dois anos e já era gostosa. Eu, apesar da raiva que sentia, não podia negar que ficava atraída por ela. Mas sempre vi essa atração como algo negativo. Ela era fria, agressiva e má. Bil era o meu amor de adolescência, limpo, lindo, alegre, sempre me fazendo sorrir e esquecer a tristeza e a saudade dos meus pais.

Indaguei-me se eu não me enganara por todo aquele tempo. Sabia que Bil adorou a herança que o deixou rico com a mãe. E que era irresponsável e egoísta. Ele não era bem o príncipe que eu pensava. E se Sarah também não fosse tão ruim como eu imaginaria? E se na época ela sentisse raiva por ninguém acreditar nela, de que minha tia Ana era interesseira e de que queria seduzi-la sob as barbas do pai?

E agora, depois de dez anos, eu a procurava por dinheiro. Deitava-me com ela como uma cadela no cio, sendo ainda casada. Ela devia estar confirmando o que sempre pensava de mim: Que eu também era interesseira e aproveitadora. Talvez por isso fosse tão fria fora da cama.

Terminei de passar a roupa, cansada. Um estranho desânimo me dominava e minha cabeça estava cheia de dúvidas. 

A noite chegou e Sarah não ligou. Fiquei com raiva por não ter conseguindo me desgrudar do celular o dia inteiro, esperando que ela me ligasse a qualquer momento. 

Eu devia estar feliz por dormir em casa. Por que não me sentia assim?

...

No sábado Bil continuou inconsciente. Almocei com Cecile, Mary e Carla, que eu convidei porque ela adorava. Foi um almoço agradável e eu me diverti com o bom humor de Mary e de Carla, que se davam bem, como se já se conhecessem há anos. Cecile também ria à toa, embora não entendesse metade do que elas diziam.

Eu estava terminando de comer quando o celular começou a tocar na sala. Troquei um olhar ansioso com Carla que estava dando macarrão para a Cecile e levantei-me rapidamente. Meu coração batia desesperadamente. Era ela. Atendi o celular na sala.

- Oi. - Uma voz fina e manhosa de mulher ronronou. - Desculpa, não aguentei esperar você me ligar... Estou com saudades...

-  Ah... Não é a Sarah. - Expliquei desnecessariamente sentindo um estranho desconforto. Quem seria aquela mulher? Com certeza uma das amantes dela.

- Quem está falando? - O ronronar de garota manhosa sumiu da voz dela.

- Eu... É... - Fiquei sem saber como explicar. - Sou cunhada dela. A Sarah me emprestou esse celular por um tempo.

- Cunhada? - A mulher parecia desconfiada. - Mas eu preciso falar com ela! Sabe o número que ela está usando?

- Não.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora