CAPÍTULO 1

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Salvatore 


Soco. Soco. Soco.

Soco. Chute. Soco.

Esmago meus dedos contra o saco de pancadas a minha frente sem nenhuma piedade, usando cada gota de energia e adrenalina que corre em minhas veias. O suor pinga pela minha testa, ensopando meu peito e abdômen, mas não dou nenhuma folga.

Continuo golpeando o saco como se estivesse enfrentando meu pior oponente em uma luta final. Soco atrás de soco, golpe atrás de golpe. Todos pensam que guardo minha fúria para o momento da luta mas isso não é verdade. Gasto toda a minha fúria, cada grama de raiva e ódio aqui, nesse momento, durante os treinamentos. Em minhas lutas não há nada além de autocontrole, calma e precisão cirúrgica.

Essa é a graça de parecer tão assustador por fora, os oponentes temem a raiva e a fúria em peso que cada centímetro do meu corpo irradia, mas os pobres coitados não imaginam que devem temer o que eu realmente tenho por dentro e a forma que encaro cada embate.

Não eram meus músculos, anos de treino ou força bruta que me levaram até onde cheguei – faixa preta em múltiplas artes marciais, lutador profissional, campeão mundial, mestre dos melhores - mas sim a impassibilidade, o controle absoluto, a racionalidade e quietude de cada golpe.

Há mais poder no silêncio do que no grito. Há mais força no controle do que no desgoverno. Não há nada mais bonito do que um maxilar quebrado com um soco potente executado de maneira perfeita. É isso que os apavora: o monstro silencioso e impecável que habita em mim e que se liberta apenas no momento certo.

Amo o controle. Amo o domínio. Amo a liderança, autoridade e peso que eles me proporcionam. Apenas minha família conseguia atravessar minha muralha, apenas por eles eu me tornava flexível. Meu sangue. Minha famiglia. Por eles eu matava, por eles eu morria.

Talvez por ter sido o único filho nascido e crescido na Itália eu tenha ficado com todo o complexo de proteção. Ninguém toca aqueles que eu amo e essa é minha lei mais sagrada.

Ninguém me coloca de joelhos, por ninguém eu me rendo. Essa é minha lei número dois - que é seguida à risca por muitas outras num código lapidado em minha alma.

Toda a minha vida foi construída com muita dedicação e persistência. Nada de valor se forma sem constância e paciência e ter chegado aonde eu cheguei era meu maior orgulho. Mesmo após ter me machucado e me aposentado de campeonatos, ter construído meu complexo onde eu podia treinar pessoas com o mesmo objetivo que eu era muito gratificante.

A luta era uma arte por um motivo. Ela trazia propósito, motivação, controle e respeito para a vida de quem a praticava. Era um estilo de vida que tinha muito pouco a ver com violência mas sim com saber aplicar a força, o impacto e a conexão da mente com o corpo de forma correta.

Continuo na minha sessão de socos, joelhadas e chutes e sigo para um circuito de flexões, abdominais e burpees que sei que me deixará dolorido amanhã.

Só me levanto do tatame quando meu celular começa a gritar, avisando que tenho uma ligação. Em qualquer outra situação eu teria ignorado e terminado meu treino, mas desde toda a situação envolvendo Ana Cecília e Danilo há três meses, ignorar ligações estava fora de questão.

Eu ainda me culpava por não ter protegido os dois, por ter deixado tanta merda acontecer com minha bebê. Mas agora eles estavam bem e felizes e era tudo que importava. Eu tinha o meu saco de pancada para descarregar minha autodepreciação.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora