CAPÍTULO 25

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MARIA CLARA 



Eu queria Salvatore.

Sei que aprece frase clichê de livro de romance, mas nada se aplica melhor a como me sinto no momento.

Com saudade. Desejosa. Querendo tudo dele.

Como eu poderia entender o que estava acontecendo? Meus sentimentos me atropelam num amontoado difícil de desembolar. É tudo tão confuso, e ao mesmo tempo, é perfeito.

Nossa rotina no trabalho estava normal, ou quase isso, porque havia aquela tensão suave entre nós, um puxão que nos levava um para o outro. E apesar de Salvatore ter sido claro ao dizer que não queria apressar nada, o que para ele significava é melhor não nos tocarmos mais até entendermos o que está acontecendo, me sinto feliz.

Pela primeira vez em muito tempo, a dor e o luto e o trauma não parecem zumbir em meus ouvidos ou rastejar sob minha pele. Agora, são apenas um pequeno ruído no fundo do meu coração, uma coceira passageira num ponto inalcançável das costas.

E percebo que eles vêm diminuindo a cada dia que passo com Salvatore, minhas amarras se afrouxam e me torno mais suscetível – vulnerável, ao amor que os Fiori-Montenegro me dedicam. O amor não cura tudo. Sei disso. Mas ele faz com que a jornada seja mais doce, mais suave. Mais serena. E tudo que eu sempre busquei foi serenidade.

É quase estranho que eu me sinta assim, tão em paz, tão subitamente. Na verdade, é estranho que tenha demorado tanto para acontecer.

Era um recomeço, dessa vez, um que eu abraçava com cuidado e mergulhava de cabeça. Um que não havia sido infligido a mim.

Por isso, aproveitando que Salvatore me deu a manhã livre, pulo da cama, tomo um banho longo e saio de casa em busca de algo que nunca pensei que faria novamente.

Vou comprar materiais de pintura.

Gastei todos os que Salvatore havia me dado em Búzios em três dias, e agora eu tinha quatro lindos quadros espalhados por minha sala. Paisagens e lugares que sonho em revisitar e outros mais abstratos, que de alguma forma, se encaixavam perfeitamente em como eu me sentia. Viva. Ansiosa. Ansiando por mais.

Estou tão feliz com minhas compras que vou direto para o complexo, carregando apenas as tintas e pincéis novos, já que as telas serão entregues na minha casa no final do dia.

Entro no complexo e suspiro assim que o ar fresco do ar-condicionado beija minha pele. O Rio de Janeiro só tem duas estações do ano, inferno e entrada do inferno. E hoje era sem sombra de dúvidas a primeira opção.

Aceno para Talita, a recepcionista e vou direto para o escritório de Salvatore, que por algum milagre tem a porta escancarada. Mal preciso me aproximar da porta para ouvir a voz suave e delicada de uma mulher. E a de Salvatore. E pelo tom de voz dela, há muita intimidade entre os dois.

Meu estômago se contorce em uma bola e tento obrigar minhas pernas a darem meia volta e correrem para longe dali, mas a curiosidade me vence e me grudo ao chão, o que é uma boa ideia já que Salvatore é grosso e sucinto ao deixar claro que a mulher não é bem-vinda ali.

E então tudo acontece muito rápido.

Ela se declara para Salvatore e um som muito familiar de bocas se tocando chegam ao meu ouvido. E tento me impedir de entrar. Tento mesmo. Mas a raiva me vence, e quando percebo já entrei na sala gritando feito uma louca enciumada.

Tenho que usar cada miligrama de força dos meus músculos para não abrir a boca em total choque, porque na minha frente está simplesmente Francesca Arturo. Uma das maiores socialites do mundo. Estilista para uma grife italiana famosíssima que Cadu teimava em comprar. E a mulher é simplesmente deslumbrante. Ruiva, bocuda e peituda. Com pernas de 1 metro e meio. O sonho de qualquer homem. E fica tão bem ao lado de Salvatore que me sinto automaticamente autoconsciente das minhas pernas curtas, coxas grossas e cabelo cheio de frizz. Nem mesmo passei maquiagem antes de sair.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora