CAPÍTULO 43

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CHIARA SIENNA ANTONELLA RICCI PETROVA


Hoje

"Não posso me demorar. Mamãe está me esperando com Senhora Samir e me deram dez minutos, dez minutos para pegar algumas roupas, um sapato e descer para encontrá-las na masmorra. Por mais que seja difícil escrever com meus olhos inchados como estão, quero deixar registrado meu última dia nesse inferno.

Hoje à tarde, depois de uma competição de tiros em que venci Dragomir novamente, fui arrastada pelos cabelos até o centro da sala fechada e apanhei. Dragomir conseguiu me acertar apenas dois socos antes que eu revidasse, mas quando o nojento alcançou sua adaga e rasgou minha roupa na frente de todos, sem ninguém tentar impedir, travei completamente. E ele se aproveitou disso. Me bateu tanto, enquanto eu apenas chorava tentando cobrir meu corpo. Depois beijou e lambeu partes de mim que jamais pronunciaria.

Me sinto mais suja que um rato de esgoto.

E odeio tanto Dragomir que naquele momento, com todos aqueles homens ao nosso redor apenas observando sem fazer nada, eu apaguei. Novamamente, sem nenhum controle. Apaguei e destrui seu rosto. Quebrei uma de suas pernas e meu pai irá gastar uma pequena fortuna com um bom dentista, seus quatro dentes da frente estão guardados no bolso da minha calça.

Mama disse que irei fugir, pois é capaz que Papa Ivan me mate ao ver o que fiz com Dragomir. Que ela não pode perder sua única filha.

Me pergunto o que fez com que Mama mudasse de ideia logo agora e não nas mil outras vezes em que apanhei feito um animal abusado.

Mas não posso reclamar. Senhora Samir resolveu meu transporte para o Brasil, e Mama a documentação. Papa Ivan dirá para todos que morri, Mama Antonella me disse. E disse também que jamais poderei voltar. O que me faz muito feliz, tirando o fato de não poder mais ver minhas amigas. Kaenna, Lily, Candice... Todas elas ainda estarão presas aqui.

Um dia, irei retornar e libertarei elas também.

Custe o que custar.

Obrigada pela companhia durante os últimos anos e sinto muito que as coisas tenham terminado assim e que eu não possa correr o risco de levar esse caderno comigo.

Mama disse que ficarei com um de seus irmãos que moram no Brasil até completar dezoito anos. Depois disso, devo seguir meu próprio caminho. Jamais ter nenhuma rede social. Evitar fotos o máximo possível. Se mudar constantemente.

Sei tudo que preciso fazer para sobreviver, o que me parece estranho já que tenho apenas quinze anos.

Preciso ir, antes que me achem.

Com carinho,

Chiara Sienna Antonella Ricci Petrova"


A última semana passou feito um borrão na frente dos meus olhos.

Entre os doces reencontros com as mulheres dos galpões e algumas de minhas amigas e as tentativas falhas de conseguir a senha do cofre, pareço dormente à tudo.

Nessa altura do campeonato, esperava estar incendiada com o mais puro fogo da vingança, tremendo com a raiva mal contida em minhas veias.

Mas não sinto nada disso.

Hoje, mais do que em qualquer outro dia, sinto uma profunda e tenebrosa apatia, como se estivesse enxergando as horas passarem como um espectador fora do meu corpo. Meu cérebro parece estar se resguardando para a guerra que acontecerá daqui a duas horas. Poupando cada grama de energia, se fortalecendo. O que agradeço, de uma forma ou de outra, porque esse é, possívelmente, meu último dia na terra.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora