CAPÍTULO 40

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Chiara Sienna Antonella Ricci Petrova – 27 dias antes

Flashback

"Bulgária, Fortaleza Konstantin – dois de março de 2009

Eu odeio Dragomir! Odeio que meu pai o defenda tanto mesmo quando imploro para que ele pare. Mais cedo, no treinamento com o mestre Samir, ele chutou tanto minha barriga que cuspi sangue. Ele é maior e mais rápido do que eu porque ele já tem quinze anos e eu onze, mas treino todos os dias com a esposa do mestre Samir escondido de mamma Antonella e Papa Ivan, porque se eles soubessem cortariam a cabeça da senhora Samir e isso não pode acontecer. Senhora Samir diz que preciso ficar forte para que Dragomir não consiga me machucar tanto, mas é difícil. Pareço ser sempre fraca. E escuto os gritos que saem do quarto dos rapazes à noite. Não quero ser uma das meninas que são arrastadas lá para dentro vestindo tão pouca roupa que tenho que desviar o olhar. Mamma diz que isso não é certo, e que quando casarmos Dragomir irá me tratar feito uma rainha, mas não consigo acreditar. Porque se um dia serei um rainha, ele deveria me tratar como uma princesa... Mas sou tratada apenas como seu saco de pancada preferido. Sempre zombando do meu cabelo, ou do tamanho dos meus pés, ou do meu corpo que tem crescido a cada dia em partes que odeio. Espero não crescer nunca, para que eu nunca seja obrigada a me casar com o nojento do Dragomir.

Eu o odeio!!!!!!!!!!!

Ele é um porco imundo e um dia vou arrastar sua cara no coco do cavalo do tio Kaizo para que o fedor nunca mais saia dele e espante todas as moças da fortaleza."


"Bulgária, Fortaleza Konstantin – vinte de março de 2009

"Meus pés estão latejando depois de todas as aulas com a senhora Bronëtz. Minha cabeça fica girando com todos aqueles passos de dança que parecem mais ridiculos do que a dança de acasalamento de um pavão. Não sei nem mesmo porque estou aprendendo isso se só poderei dançar num baile com um rapaz aos quinze anos, mas mamma Antonella diz que preciso ser perfeita. Perfeita só não compreendo para quem, porque Dragomir me odiará não importa quantas valsas germânicas eu saiba dançar, quantas linguas eu aprenda ou que conversas consigo manter com as crianças de onze anos. As coisas pioraram no último mês e papa Ivan não faz nada para impedir."


"Bulgária, Fortaleza Konstantin – oito de agosto de 2011

"Meu olho direito está tão roxo que mal consigo abrir, mas estou tão feliz que nem ligo. Porque o rosto de Dragomir está bem pior. Finalmente depois de todos os treinos escondidos com senhora Samir, sou tão boa quanto Dragomir. Ele tem ficado mais alto a cada dia, mas também tem ficado desengonçado, e isso é tudo que eu preciso. Hoje, quando ele tentou me socar por ter cuspido em seu pé, não tive pena. Soquei cada parte de seu corpo feioso que consegui encostar minhas mãos. Ningúem mandou que fosse tão idiota. E o recado ficou claro, não serei a esposa pacifica que esperam que eu seja. Cada ano fica mais insuportável. Preparação, aulas e treinos. Quero ser livre. Fomos à Itália no último verão para vermos os nonnos de Mamma Antonella, e as três semanas longe de Dragomir parecem ter feito o próprio demônio ter encarmado em meu primo. Papa tem ficado mais impaciente. Não vamos mais pescar juntos e ele tem reclamado cada vez mais dos meus 'comportamentos masculinos'. Ninguém entende que só quero ser livre."


Eu pisco para afastar os pensamentos instrusos que me levam para uma época distante que me faz quase ter vontade de rir – e chorar ao mesmo tempo. Quanto sofrimento. E a alegria por finalmente poder me defender quando ninguém mais iria. Curioso que as coisas tenham voltado exatamente para esse ponto, e que eu precise me agarrar de forma tão árdua àquele instinto de sobrevivência.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora