CAPÍTULO 44

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SALVATORE


24 horas antes.


Me sinto completamente dormente ao escutar a voz de Diego atrás de mim.

- Parece que tenho algumas explicações para dar.

E mal sinto minhas pernas quando me viro, para encontrar meu amigo de longa data parecendo muito mais cansado do que o de costume.

- Isso... Isso tudo é verdade, Diego? – Escuto Nina perguntar, sua voz chorosa. E fico grata que ela pergunte por mim, pois meu coração está tão acelerado que mal consigo formular uma sequer palavra.

Vejo a expressão sombria de Diego se aprofundar ainda mais conforme ele corre as mãos pelo rosto e seu cabelo curto.

- Tudo ficou muito mais complicado do que esperávamos. Essa é a história dela para contar. Não é o meu lugar.

E essa é toda a confirmação que precisamos.

Alguém grita, um xingamento é ouvido e tropeço, tendo que me segurar em uma pilastra. O mundo parece girar ao meu redor.

- É verdade. – Diego confirma, finalmente. - Maria se chama Chiara Petrova. Ela nasceu na Bulgária, e é filha de um dos homens mais podres que existem. Quando tinha quinze anos, ela conseguiu fugir para o Brasil, trocou de nome, e construiu sua vida aqui. Sua família é responsável por algumas das maiores atrocidades que já conheci em toda a minha carreira e quando ela sumiu, sua família a declarou como morta e foi fim de história. Passei a maior parte da minha carreira buscando formas de encriminá-los. Conseguiu provas concretas para incriminá-los, e nunca conseguimos nada. Quando meus contatos souberam que o pai de Maria havia descoberto onde ela estava... – Ele olha para baixo, parecendo quase envergonhado. – Foi a oportunidade perfeita de conseguirmos colocar um ponto final na história. Ela teria acesso à todo tipo de informação que meus informantes jamais teriam.

E meu coração ainda parece que vai explodir.

- Expliquei tudo para ela, expliquei que sua família estava vindo buscá-la, e ela aceitou ajudar. Principalmente para proteger vocês. Ivan estava pronto para matá-los se ela se recusasse à voltar para a Bulgária. Eu tenho certeza que ela gostaria de ter contado tudo para vocês nos termos dela, mas era muito arriscado. Qualquer vazamento sobre a história, qualquer ligação que pudessem fazer até ela, colocaria tudo em risco. Ela perdeu essa chance.

E todos entramos num silêncio profundo, tentando assimilar as palavras de Diego, o noticiário, toda a verdade revelada como uma faca afiada que corta um véu de seda.

- Vocês não fazem a menor ideia de tudo que ela passou, todo o sofrimento que causaram a ela. Ela se escondeu e fugiu por um motivo. Ela merece a chance de se explicar. – Diego declara, antes de me olhar nos olhos. – Principalmente a você.

E eu sou obrigado a desviar o meu olhar do seu, confuso com o turbilhão de pensamentos e sentimentos que borbulham em minha cabeça e coração.

Raiva, saudade, paixão, medo. Estou prestes à ter um infarto.

- O Brasil e a Bulgária terão uma divida eterna com ela. É capaz de colocarem uma estátua com seu rosto em cada esquina e estenderem um tapete vermelho no aeroporto. – Diego afirma. - Mas a verdade é que ela está sozinha. Perdeu os pais, o resto da família foi preso, toda a sua vida foi virada de cabeça para baixo pela segunda vez. Vocês são tudo que ela tem. E no momento, preciso da sua ajuda, Salvatore.

E eu mal consigo olhá-lo, apenas balanço a cabeça em confirmação.

- Não conseguimos encontrá-la.

- O quê? – Consigo perguntar, dando um passo à frente.

- Dragomir, seu primo, está escondendo-a em algum lugar da Fortaleza. Já reviramos todos os cômodos, mas sabemos que ainda estão lá dentro. Não saíram de lá. Dragomir deve precisar de Maria Clara para alguma coisa, caso contrário, já teria... – Ele se impede de dizer, mas todos nós entendemos. E isso parece concretizar essa realidade.

- Ai meu deus... – Nina soluça.

E o zumbido em meus ouvidos, a gritaria em minha mente, tudo se silencia.

Mal sinto a grama sob os meus pés quando corro na direção de Diego, e acerto um soco forte o suficiente em seu maxilar para que ele caia no chão.

O sangue mancha sua boca com facilidade, mas ele não revida. Apenas fecha os olhos, respira fundo e se levanta novamente, massageando o rosto.

- Acho que eu mereço isso por ter escondido a verdade.

É o que ele diz. Mas eu nego.

- Não, seu filho da puta. Não dou a mínima para o passado dela. Ela é minha. Isso é por você ter entrado no meu caminho e não ter me permitido estar lá por ela. Por ter me impedido de defendê-la. Mas você vai consertar isso agora.

- Vou. – Ele confirma. – Precisamos sair agora, o avião já está nos esperando.

- Salvatore, calma. Calma. – Mama Helena fala, entrando entre nós dois. – Você vai para a Bulgária assim? Meu filho, entendo porque você acha que deve ir, mas não é melhor deixar a polícia resolver isso?

- Não há mais perigo, Senhora Fiori. – Diego garante. – Só gostaria da ajuda dele para procurá-la, e Maria precisa de rostos amigos ao seu redor. Nesse momento é tudo que ela mais vai precisar.

E isso faz Mama assentir.

- Então todos nós deveríamos ir. – Cadu diz, limpando os olhos molhados.

- Não posso permitir isso, sinto muito. – Diego afirma. – Salvatore, precisamos sair agora.

Eu apenas balanço a cabeça, tentando encontrar o lugar conhecido de paz dentro de mim, tentando me colocar sob controle.

Minha mulher precisava de mim.

Eu estaria lá por ela.

Abraço todos e prometo dar notícias o mais brevemente possível. Mal entramos no carro de Diego, antes que eu saque meu telefone do bolso, já discando meu número de emergência.

- Diga, luz da minha vida. – Natália fala do outro lado.

Seu bom humor indica que ainda não viu nenhuma notícia hoje.

- Preciso de você.

E é tudo que ela precisa para ficar calada ouvindo minhas instruções, antes de desligar na minha cara.

Em cinquenta minutos, minha melhor amiga está parada com duas malas, meu passaporte, e tudo que vou precisar para passar um mês num iglu na Sibéria se necessário.

Seus olhos ansiosos deixam claro que ela já sabe o que está acontecendo.

O abraço que ela me dá quando nos encontramos me ajuda a colocar minha cabeça no lugar, sabendo que ela era uma das principais pilastras da minha vida.

Ela não deixa espaço para Diego negar, quando embarca junto conosco.

Vinte horas depois, estou encarando a construção gigantesca que parece ter saído de uma série mediaval.

Diego estaciona o carro blindado alugado e eu e Natália pulamos para fora. Ele aparece ao nosso lado em seguida, e mal nos espera antes de começar a andar. Sua voz acendendo toda a raiva e miséria que passei durante o último mês.

- Vamos ao trabalho. 

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora