CAPÍTULO 36

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MARIA CLARA


- Ganhei! - Eu berro, completamente descontrolada, enquanto Caspian galopa suavemente sob meus quadris, diminuindo a velocidade após a corrida que apostei com Salvatore. Caspian era meu mais novo cavalo, um presente do meu muito exagerado namorado. E ele era perfeito. Negro como a noite, rápido como um trovão. E charmoso feito o rei de Nárnia, de onde tirei seu nome. Tão charmoso que já estava mantendo certas relações com Vega - para a alegria de Salvatore.

- Onde você aprendeu a galopar desse jeito? - Ele pergunta, finalmente me alcançando, ofegante pelo sol que brilha sobre nossas cabeças. Ele tem um sorriso orgulhoso, mas enquisitor também. E isso faz meu coração se acelerar da pior forma de todas. Com culpa. Porque jamais poderei contar a Salvatore onde aprendi a cavalgar. Ou onde aprendi a lutar, falar portugûes, italiano, inglês, russo, francês e búlgaro. Essa parte e tantas outras da minha vida permaneceriam intocadas por ele. Escondidas em um baú à sete chaves. Porque era melhor assim. Era como tinha que ser. Mas agora, estando em um relacionamento, as linhas pareciam ser cada vez mais nebulosas, se desfazendo suavemente com todo o amor que ele parecia plantar em meu coração. Eu queria tanto que não houvessem barreiras, sombras do passado entre nós. Mas nesses momentos em que seus olhos buscam a verdade nos meus, preciso me acovardar. Mentindo.

- Fiz aulas quando era criança, tínhamos muito espaço. E andando no pônei da praça da Tijuca, é claro. - Eu digo, sarcástica, e isso é suficiente para fazê-lo rir, leve.

- Tenho certeza que sim. - Ele balança a cabeça. - Podemos voltar? O almoço já deve estar sendo servido e não quero irritar Cora.

- Vamos, bebezâo. – Eu digo, colocando Caspian em movimeto, feliz com a brisa suave que refresca minhas bochechas e o som ritmado do nosso peso esmagando a grama.

- Está animada para seu aniversário? – Ele pergunta, sua voz intensa enviando sinais deliciosos pelo meu corpo.

E eu quase havia esquecido que amanhã eu completaria vinte e cinco anos. O tempo era uma coisa engraçada. Eu ainda podia sentir a menina de 15 anos dentro de mim. Não havia feito nenhum plano, só queria continuar aqui na fazenda, e curtir o dia com a família.

- Não. – sorrio, sincera. – Mas estou feliz por poder comemorar com vocês.

- Será um dia incrível, Maria. – Ele garante, e eu concordo. Nesse paraíso, nada poderia dar errado.

Finalmente chegamos à sede e Salvatore me ajuda a descer de Caspian, entregando as rédias para um dos ajudantes da fazenda. E como bons idiotas que somos, vamos correndo em direção as escadas, se estapeando, mordendo, e tentando derrubar o outro para ver quem conseguiria chegar primeiro na cozinha.

Salvatore tem a descência de pelo menos me deixar pensar que eu ganhei – e eu faço o mesmo.





- Mari, dá um tempo. Deixa eu descer logo. – Eu digo impaciente, para minha amiga que parece um guarda real, parada na porta para garantir que eu não saia. Ela sabe que eu poderia tirá-la do meu caminho se e quisesse, mas sua expressão decidida me faz acreditar que seja lá o que a família esteja tramando no primeiro andar da sede, vale a pena esperar.

Isso não me impede de reclamar. A verdade é que assim que o sol se pôs, depois de passarmos o dia inteiro juntos na piscina, com direito à torta de limão como meu bolo de aniversário e sexo molhado no chuveiro com meu namorado, Mariana e Cadu me arrastaram para a suíte de Salvatore, passaram a chave na porta, que agora estava bem escondida em algum lugar dos seios da minha melhor amiga, e me fizeram de boneca.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora