CAPÍTULO 23

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MARIA CLARA

- Terra chamando Maria Clara! - Nina diz, estalando os dedos graciosos na frente do meu rosto subitamente muito corado, por perceber que minha amiga passou os últimos dez minutos completamente engajada em uma conversa que mal me lembro a metade.

Era assim que eu andava ultimamente. Completamente distraída.

Eu gostaria de poder dizer que a razão disso era óbvia: um carro velho que dá problema demais, uma conta recorrente no cartão de crédito que não termina nunca, um carinha que furou o nosso encontro. Algo assim, mundano. Ordinário mesmo. Mas eu estaria mentindo.

Porque o motivo da minha distração está sentado a três cadeiras de distância, me encarando tão profundamente que não posso fazer nada além de pensar no decorrer das últimas semanas. Principalmente naquele pequeno detalhe em que meu chefe, melhor amigo e irmão mais velho da minha amiga mais antiga me beijou.

Me devorou.

Após fazer a surpresa mais perfeita do mundo pra mim.

Após me trazer de volta para casa, quando já fazia anos - nove deles, especificamente -que eu me sentia completamente inadequada em qualquer lugar, principalmente dentro de mim mesma. E foi tudo muito demais. As emoções todas recaindo sobre mim de uma vez. A pintura, a viagem, os meses do cheiro, sorriso, tudo dele enevoando a minha mente. Nossa barragem simplesmente rompeu. Não aguentou a força de tudo. E nunca me senti mais completa em toda a minha vida.

Se eu acreditasse nessas baboseiras de destino, acaso, almas gêmeas perdidas e tudo mais, eu diria, sem sombra de dúvidas, que uma parte de Salvatore, e uma parte minha, parte tão grande que me assustava, pareciam perfeitas um para a outra. Éramos perfeitos juntos. Sua boca na minha, suas mãos em mim, seu coração sob a minha palma.
Era tudo muito íntimo. Tudo muito nosso. Perfeito.
Como a manhã seguinte em que dormimos juntos ainda na casa de Cadu, sua respiração cadenciada, os dedos percorrendo meu rosto sonolento com carinho, e o sussurro naquele italiano deliciosamente perfeito que me arrepiou da cabeça aos pés.

- Perfetta.

Perfeita.

Aqueles dois metros de músculos com um rosto esculpido pelos deuses tinha me chamado de perfeita.

Eu. Euzinha!

Era bom demais pra ser verdade.

Por isso, lutei contra todos os meus instintos que me imploravam para me aconchegar a ele e nunca mais soltar, e levantei da sua cama sem sequer me despedir, escapulindo de volta pro meu quarto antes que qualquer um acordasse.
Desde então, eu estava uma bagunça completa.. Totalmente aterrorizada. Querendo muito mais.

Com Salvatore era assim. Nunca havia um meio termo. Tudo ou nada. Congelando ou fervendo. Morno jamais. E aquele homem sabia como fazer uma mulher pegar fogo...

Tanto que na volta da viagem, o silêncio que pairava entre nós era tão carregado que nem mesmo as piadinhas de Cadu conseguiam cortá-la. Bastava olharmos um para o outro e lá estava tudo de novo. Gritando. Chamando. Implorando. Como dois imãs. Agora que eu sabia o gosto do seu beijo, a forma que ele me conduzia, que enxergava a minha alma, que me protegia, eu não fazia ideia de como voltar a ser o que éramos antes. Não havia caminho de volta. Pelo menos não para mim.

Quando ele estacionou na frente do meu apartamento, Cadu e Mari pareciam sentir que algo estava prestes a acontecer, pois rapidamente saíram do carro, pegaram as malas no carro e sumiram por dentro da portaria.

E sobramos nós dois.

Tudo muito incerto. Tudo muito novo. Tudo delicioso.

Não sei quem se mexeu primeiro, mas em um piscar de olhos, meu cinto foi destravado, eu subi para seu colo e sua boca estava na minha novamente. E eu me perdi.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOWhere stories live. Discover now